Lição 13 – Baruque
Construindo um legado em um mundo despedaçado
Ivanaudo Barbosa
Objetivo desta lição: Mostrar como Baruque entendeu a verdadeira grandeza.
Verdade central: A verdadeira grandeza se mede pelo serviço fiel a Deus.
Introdução
Neste estudo apresentamos o último personagem dos 12 heróis deste trimestre. Baruque. Este é seu nome. Baruque viveu num período conturbado na vida de Judá. Havia “problemas cruciais no campo moral e espiritual. Em seus dias, Jerusalém foi tomada, o templo, destruído, e muitos judeus foram levados cativos. Ele viveu nesse tempo de dramática mudança e perda. Embora seu mundo estivesse desmoronando, ele deixou um legado que nenhum rei nem a guerra poderiam destruir.”
PARA A CLASSE: Você vai notar na vida de Baruque, que servir ao Senhor custa, e custa muito. Mencione experiências suas em que você pagou alto preço por ser leal aos princípios que Deus nos deixou.
I. Quem foi Baruque?
Na Wikipédia encontramos esta apresentação dele: “Filho de Nerias, irmão de Seraías, amigo e secretário do profeta Jeremias (Jr 36:4). Era homem erudito, de nobre família (Jr 51:59), tendo servido fielmente ao profeta. Pelas instruções de Jeremias, Baruque escreveu as profecias daquele profeta, comunicando-as aos príncipes e governadores. E um destes foi acusar de traição o escrevente e o profeta Jeremias, mostrando ao rei, como prova das suas afirmações, os escritos, de que tinha conseguido lançar mão. Quando o rei leu os documentos, foi grande seu furor. Mandou que fossem presos os dois, mas eles escaparam. Depois da conquista de Jerusalém pelos babilônios (586 a.C.), Jeremias foi bem tratado pelo rei Nabucodonosor – e Baruque foi acusado de exercer influência sobre Jeremias a fim de não fugirem para o Egito (Jr 43:3). Mas, por fim, ambos foram compelidos a ir para ali com a parte remanescente de Judá (Jr 43:6).
Durante seu encarceramento, Jeremias deu a Baruque o título de propriedade daquela herdade que tinha sido comprada a Hanameel” (Jr 32:8-12). Em resumo, Baruque foi “um alto funcionário da administração babilônica na Judeia”, um erudito de família nobre, e secretário do profeta Jeremias no período da invasão de Judá por Babilônia no século sétimo a.C. (Tradução Ecumênica da Bíblia, Ed. Loyola, São Paulo, 1994, p. 710). O ministério de Baruque vai desde o 13° ano de Josias (626 a.C.) até o 4° ano de Jeoaquim (609). Pouco tempo atrás. os arqueólogos acharam num sítio arqueológico em Israel um selo de argila com a inscrição “Baruque, filho de Nerias, o escriba”. Deve ter 2.600 anos. Ter um selo pessoal era sinal de destaque e grandeza (Dicionário Ilustrado da Bíblia, p. 179). Seu nome significa “aquele que é abençoado”.
Para o professor: Quais personagens bíblicos e ou seculares que você se lembra abandonaram uma carreira ou posição de prestígio para servir a Deus?
II. Uma vista geral dos tempos de Baruque
O rei Josias foi o último bom rei de Judá. Ele começou reinar com oito anos. Quando estava com 16 anos, começou a buscar o Deus de seus pais e, aos vinte, começou a erradicar as práticas idolátricas que havia em Judá (2Cr 34:3). Quando tinha 26 anos, iniciou os reparos do templo que estava abandonado. Ali foi encontrado o livro da lei. Esse foi o início da reforma espiritual que houve em Judá (2Rs 22:3-5). Entretanto, Josias morreu cedo numa batalha contra o rei do Egito (2Rs 23:29 e 30). Daí para frente, Judá entrou no caminho descendente da apostasia sob os governos de Jeoaquim e Zedequias filhos de Josias. Nesse tempo, Deus chamou Jeremias para o ministério profético.
A tônica da mensagem de Jeremias era: Voltem-se para o Senhor, busquem o Senhor! Não resistam a Nabucodonosor! Não façam aliança com o Egito! Entreguem-se a Nabucodonosor e ele os levará como cativos para Babilônia. Mas, depois de 70 anos, Deus os trará de volta!. Mas o rei e o povo jamais aceitaram a mensagem de Jeremias. Ao contrário, ele era tido como um subversivo. Aqui entra a figura de Baruque. O homem que escreveu as mensagens de Jeremias, o homem que foi perseguido com Jeremias, o homem que trocou um lugar de destaque em sua sociedade para ser um copista do profeta Jeremias: Baruque.
PARA MEDITAR: Pelo que você viu acima, o contexto social das nações vizinhas e a vida espiritual de Judá parece uma descrição do que nos cerca, incluindo a igreja ASD. Ali estão Josias, Jeremias e Baruque para mudar o quadro. O que posso fazer para mudar o quadro na minha igreja? Dê sugestões práticas.
III. Baruque, o escriba, como assistente literário de Jeremias
Baruque não foi um profeta. Ele foi um escriba ou copista das mensagens do profeta Jeremias. Ser um escriba não era uma simples profissão. “Os escribas no Egito e na Mesopotâmia eram pessoas que ocupavam cargos administrativos importantes nos palácios reais. Eram obrigados a manter relatórios fidedignos em departamentos complexos do Estado” (G. Glingbeil, Histórias Pouco Contadas, p. 135).
Ao trocar sua posição de escriba da corte pela de assistente literário de Jeremias, Baruque não fez uma troca vantajosa aos olhos de posição e/ou status social. Aqui começa o legado que ele nos deixou. Outros autores bíblicos tiveram assistentes literários e Ellen White também. Então, alguém poderá perguntar: Os assistentes literários eram coautores das mensagens? A resposta é que não. Primeiro, porque não cremos na inspiração verbal mas, sim, na inspiração do profeta. Então, as palavras podiam ser escolhidas pelo autor ou pelo copista, mas a mensagem vinha de Deus.
Falando desse tema, W. C. White, filho da senhora White diz: “Minha mãe nunca fez reivindicações à inspiração verbal, e não vejo que meu pai, ou o Pastor Bates, Andrews, Smith ou Waggoner as fizessem. Caso houvesse inspiração verbal ao ela escrever seus manuscritos, por que haveria de sua parte o trabalho de acréscimo ou de adaptação? Verdade é que mamãe muitas vezes toma um de seus manuscritos e o lê atentamente, fazendo acréscimos que desenvolvem ainda mais o pensamento” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 437).
E Ellen White afirma com certeza: “Não são as palavras da Bíblia que são inspiradas, mas os homens é que o foram. A inspiração não atua nas palavras do homem nem em suas expressões, mas no próprio homem que, sob a influência do Espírito Santo, é possuído de pensamentos. As palavras, porém, recebem o cunho da mente individual. A mente divina é difusa. A mente divina, bem como Sua vontade, é combinada com a mente e a vontade humanas; assim as declarações do homem são a Palavra de Deus” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 20 e 21).
Quando Lucas escreveu seu livro, ele fez pesquisas e se valeu de várias fontes históricas disponíveis. O que cremos é que o Espírito Santo guiou Lucas a encontrar as fontes mais fidedignas. Falando da escolha de Baruque por Jeremias, Ellen White escreve: “É-me fácil crer que Jeremias foi dirigido por Deus em sua escolha de Baruque como copista…” (Mensagens Escolhidas v. 3, p. 455).
Embora Baruque tenha sido o escritor, a revelação da mensagem veio pelo próprio Deus a Jeremias. Portanto, o autor das mensagens era o próprio Deus.
Em obediência a essa ordem, Jeremias chamou em seu auxílio um fiel amigo, Baruque, o escriba, e ditou-lhe “todas as palavras do Senhor, que Ele lhe tinha revelado, no rolo” (Profetas e Reis, p. 432). Depois que o rei Jeoaquim queimou o primeiro livro, Deus ordenou a Jeremias que escrevesse outro livro com a mesma mensagem do primeiro e ainda acrescentou outras mensagens. Note esta citação: “Tomando outro rolo, Jeremias deu-o a Baruque, o qual escreveu nele da boca de Jeremias todas as palavras do livro que Jeoaquim, rei de Judá, tinha queimado no fogo; e ainda se acrescentaram a elas muitas palavras semelhantes” (Profetas e Reis, p. 437: Jr 36:28 e 32).
Ellen White garante que suas assistentes literárias não mudavam suas mensagens. “Você viu minhas copistas. Elas não modificam minha linguagem. Essa permanece assim como escrevo. ...” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 90). O filho da irmã White escreveu: “Tenho a convicção de que a irmã Ellen G. White teve orientação celestial ao escolher as pessoas que deviam servir de copistas e as que deviam ajudar a preparar artigos para nossos periódicos e capítulos para nossos livros” (Carta de G. C. White a L. E. Froom, 8 de janeiro de 1928; citado em Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 455).
PARA A CLASSE: Baruque tinha um sonho. Qual é seu sonho para sua igreja?
IV. “Ai de mim!: O choro de Baruque
Depois de ter escrito o livro, ter lido a mensagem diante do povo e perante os príncipes e saber que o rei havia queimado o livro, Baruque teve uma crise e desabafou: “Ai de mim agora! Porque me acrescentou o Senhor tristeza ao meu sofrimento; estou cansado do meu gemer e não acho descanso (Jr 45:3). Por que Baruque chorou? O escritor Elben M. Lenz César mostra cinco razões por que Baruque chorou. São elas:
1. Baruque teria chorado porque alimentava a mesma expectativa de Deus e de Jeremias quanto ao resultado da leitura do livro.
2. Ele teria chorado porque corria risco de vida.
3. Ele teria chorado porque, ao escrever o livro, teve uma percepção clara da condição espiritual do povo.
4. Ele teria chorado porque, ao escrever o livro, tomou conhecimento das desgraças que Deus planejava trazer sobre o povo (Jr 36:3).
5. Ele teria chorado porque, mesmo não participando da corrupção generalizada, ele também estava ao alcance das desgraças que iam se sucedendo.
Além dessas, podemos ainda acrescentar o que Klingbeil menciona:
1. Provavelmente, Jeremias estivesse na prisão, e a perspectiva de um reavivamento em meio aos líderes de Judá não mais parecia possível.
2. O futuro de Baruque, pelo menos da perspectiva terrena, no mínimo, parecia desolador.
Entretanto, Deus prometeu estar com Baruque e proteger sua vida (Jr 45:5). Imagine o quadro que Baruque viveu ao lado de seus irmãos. Ele viu a chegada dos exércitos caldeus. Viu os muros sendo derrubados, viu as lindas casas mobiliadas sendo destruídas. Ele viu muitas pessoas sendo mortas barbaramente. Mas Deus prometera dar sua vida por despojo. Alguns escritores dizem que Baruque foi levado com Jeremias para o Egito. Flávio Josefo diz que Nabucodonosor o levou para Babilônia (Antiguidades dos Judeus, 10: p. 179 a 182) Não sabemos com certeza o que aconteceu com Baruque. O que sabemos é que ele escolheu trocar a vida confortável do palácio para ser um fiel companheiro de Jeremias em meio a perseguição, fugas e talvez pobreza. Mas a riqueza que ele nos deixou é um tesouro que tem ajudado milhões de pessoas a encontrar o caminho da lealdade a Deus.
DISCUTA COM SUA CLASSE: Jeremias chorou. Baruque entrou em desespero ao ver a situação sem esperança de seus irmãos. Você já se sentiu esmagado pela dor de ver sua igreja atravessando períodos de crise? Compartilhe seus sentimentos.
Conclusão
Em alguns túmulos há algumas frases que dizem: “AGRÔNOMO: Favor regar o solo com Nevugon. Evita vermes!” ALCOÓLATRA: Enfim, sóbrio! Na lápide de Isaac Newton estão estas palavras: “É uma honra para o gênero humano que tal homem tenha existido.” Na de Jô Soares, ele gostaria que escrevessem: “Enfim, magro!”
Quando a vida terminar, o que você gostaria que escrevessem em sua lápide? O que seria uma boa frase para ser colocada no túmulo de Baruque? No capítulo 36 de Jeremias, quando o povo foi ao templo, Baruque viu na linha do horizonte um fio de esperança. Mas isso logo desapareceu e a rebeldia tomou seu lugar novamente na vida deles. Talvez ele poderia ter pensado numa vida com mais conforto. Talvez menos desprezo. Quem sabe até um cargo no palácio, numa nação em paz. O autor da lição diz: “Na possível reforma, ele seria um homem de importância, talvez elevado a uma alta posição no governo.” Mas a frustração tomou conta de seu coração ao ver a rebeldia do povo. Ele, porém não desistiu de ser fiel a Deus.
Para Baruque, o verdadeiro sentido da vida não estava numa boa educação, numa linda casa nem num cargo bem remunerado. Aquele que deixou Seu lar no Céu e veio viver entre nós para que pudéssemos ser alguém foi o padrão que moldou a vida de Baruque. Aquele que trocou o Céu pela Terra, a paz pela perseguição, o conforto pelas estradas da Judeia inspirou Baruque a viver uma vida completa para Deus num país despedaçado. Então, o que escreveremos no túmulo de Baruque? Tente uma frase. Vou colocar a minha. “Aqui jaz um homem que soube dar valor à vida” E no seu, o que escreveremos?