sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Comentário da Lição da Escola Sabatina do 3º Trimestre de 2011 - Adoração - Lição 10 - Adoração: do exílio à Restauração


Lição 10 – ADORAÇÃO: DO EXÍLIO À RESTAURAÇÃO


Ruben Aguilar

Etimologicamente, o sentimento de adoração é um estado de prostração e de reverência. O conceito de adoração, no entanto, se amplia pela necessidade de identificar o ser a quem se deve adorar; conhecer as exigências da adoração adequada; destacar as formas variadas de adoração; permanecer no lugar estabelecido para evocar esse sentimento. No cenário do Antigo Testamento, o lugar da autêntica adoração, onde todos os critérios requeridos se manifestavam, era o Tabernáculo de Deus; mais tarde, o Templo de Jerusalém. A razão imperiosa para definir o lugar de adoração foi determinada por Deus, para que o Ser divino pudesse morar entre Seu povo.

O objetivo primário de manter um lugar apropriado para expressar adoração a Deus era o da renovação das promessas da Aliança. Deus faria de Abraão uma grande nação e lhe daria a terra por herança. Em palavras mais francas: Deus faria de Abraão uma nação próspera e que estivesse sob a proteção divina. A adoração no lugar determinado por Deus implica na expressão de fervorosa reverência com os ouvidos da humildade atentos para ouvir as promessas de Deus. Assim ocorreu em Siquém (Gn 12:6), em Manre (Gn 13:18), em Berseba (Gn 21:33) e em Betel (Gn 28:16-19).

No período da peregrinação, e sob a liderança de Moisés, o senso da presença de Deus devia acompanhar o passo lento dos que foram libertos. Esse sentimento era expresso na visualização constante do Tabernáculo de Deus. O serviço nesse lugar de adoração foi incrementado com o sacrifício contínuo do cordeiro; símbolo da morte do Salvador prometido. Mais tarde, o Tabernáculo foi substituído pela construção imponente do Templo de Salomão, que, ao ser concluído ficou cheio da glória do Senhor (1Rs 8:11).  Em termos de religiosidade, o povo de Israel obteve favor desmedido com a construção do Templo de Jerusalém. Aquele era o lugar de adoração; ali podiam ter senso da presença de Deus; ali o povo podia ouvir com os ouvidos do espírito, as promessas da Aliança; ali o povo podia antever o sacrifício do Redentor para promover a salvação final. Mas a indiferença às prescrições divinas, a influência dos costumes e tendências idolátricas promovidas por outras nações, o desregramento dos líderes espirituais, levou historicamente, ao abandono da importância do Templo como símbolo de religiosidade. Fatidicamente, logo aconteceu a destruição do Templo e o exílio.

O EXÍLIO.  “FILHO DO HOMEM, VOCÊ VIU...?”
A situação do povo de Deus nos séculos VIII e VII a.C. podia ser analisada através de dois condutos de observação: uma profética e outra histórica. Profeticamente, vários profetas insinuaram a destruição da cidade de Jerusalém e do seu Templo, por intervenção do poder babilônico. Historicamente, no entanto, isso não pareceria acontecer, pois Babilônia não passava de uma região sob o domínio do império Assírio. Profeticamente, o vaticínio mais pessimista sobre o destino de Jerusalém havia sido anunciado pelo profeta Jeremias durante 23 anos, desde o décimo terceiro ano de governo do rei Josias (Jr 25:30), finalizando essa mensagem, em forma de epílogo, com a invasão de Nabucodonosor (Jr 25:9) e o exílio de 70 anos (Jr 25:12).

O rei Josias, de Judá, governou durante 31 anos, em Jerusalém (2Cr 34:1), desde 640 a.C. A pregação de Jeremias teve início em 627 a.C. Os registros históricos desse período, auxiliados por documentos arqueológicos, narram o poderio do reino da Assíria alcançado no governo do rei Ashurbanipal. Sua capital, Nínive, estava embelezada com palácios, parques, museus, largas avenidas, em destaque a biblioteca real, e até um zoológico de raras espécies de animais era mantido. Seu domínio alcançava toda a região sul da Mesopotâmia, incluindo Babilônia; ainda no leste ocupava os territórios do Elam, incluindo a Pérsia e a Média; pelo lado ocidental do Eufrates, seu domínio se estendia até as fronteiras da Anatólia, o território da Síria e toda a Palestina, até o norte do Egito. Mas, segundo a previsão divina, tudo mudaria em pouquíssimo tempo.

Em 627, a.C. ocorreu a morte do rei Ashurbanipal. O império assírio ingressou numa crise de poder político que o levou a uma inevitável decadência. Nabopolasar, líder do pequeno reino da Babilônia, começou um movimento para se libertar do domínio assírio. Unido a Cyaxares, rei da Média, formou um exército que avançou pela margem oriental do rio Tigre até alcançar a cidade de Nínive e destruí-la, matando Shin-Shar-Ishkun, último rei assírio (611 a.C.). As previsões proféticas pareciam não se cumprir quando o faraó Neco, do Egito, atravessou a Palestina com um poderoso exército a fim de deter o crescimento do poder babilônico. Houve uma batalha às margens do rio Eufrates onde o exército de Nabopolasar foi destruído (609 a.C.). Então, o faraó Neco, dono da situação, acampou em Carquemis. Nabucodonosor, filho do rei babilônico derrotado, iniciou a reorganização do exército numa operação inimaginável, praticamente retirando das cinzas o que era imprescindível para uma campanha bélica. Em 606 a.C., ele dirigiu seus comandados pela margem ocidental do Eufrates e encontrou o exército egípcio do faraó Neco em Carquemis. A batalha foi denodada e o vencedor foi Nabucodonosor. Estimulado por essa façanha, o rei babilônico desceu pelos territórios da Palestina e ocupou várias cidades, entre elas, Jerusalém (2Rs 24:1).  Esse foi o início do exílio.

Devido à rebelião de Jeoaquim, rei de Judá, Nabucodonosor realizou uma segunda invasão de Jerusalém (598 a.C.) e a destruiu (2Rs 24:2). Como consequência da rebelião de Zedequias, rei de Judá, onze anos mais tarde, Nabucodonosor comandou uma terceira invasão de Jerusalém (587 a.C) e destruiu o Templo ou a Casa do Senhor (2Rs 25:9). Assim ocorreu, exatamente como os profetas predisseram e lamentaram. O povo de Deus, não mais teria o lugar sagrado para manifestar sua adoração. Por que isso aconteceu?

A resposta a essa pergunta está na visão reveladora do profeta Ezequiel, que descreve no capítulo oitavo do seu livro os pecados abomináveis dos líderes do povo. As palavras do profeta não deixam dúvidas de que os principais descalabros morais dos líderes judeus eram a idolatria e a prostituição. O grau elevado dessa transgressão é colocado em destaque mediante a expressão que denota admiração inusitada: “Filho do homem, você viu o que os anciãos da casa de Israel fazem nas trevas...?” (Ez 8:12). O espírito libertino dos transgressores os levou a considerar seus vícios como atos escondidos dos olhos divinos, formulando a maldosa razão lógica aplicável só a seres limitados como são os homens comuns; “pois dizem: O Senhor não nos vê...” (Ez 8:12 u.p.).

O Templo de Jerusalém, que brilhava com esplendor pelo material dourado empregado nas suas paredes e móveis; e muito mais, pelo brilho celestial da Shekinah, símbolo da presença de Deus, foi considerado com desdém pelos líderes judeus, anulando dessa maneira a definição do Templo como lugar de adoração. A tendência religiosa era seguir os padrões de adoração das nações pagãs, caracterizadas pela idolatria e a prostituição. Os cultos idolátricos eram celebrados com práticas de pródiga sensualidade. Centenas e milhares de moças, falsamente chamadas de “sacerdotisas”, eram usadas para concretizar o ritual de perversão. Mas Israel, imitando essa prática, foi além daquela pretensa mostra de religiosidade, estabelecendo nessas celebrações, pessoas do sexo masculino para dar mais realce à obscenidade. Foram identificados pelo tradutor bíblico como “prostitutos cultuais” (1Rs 14:24; 15:12). Nessas condições, o Templo perdeu toda significação como lugar de adoração a Deus, e devia ser retirado.

O EXÍLIO: ADORANDO A IMAGEM
A quantidade de manifestações religiosas, no passado e no presente, é de difícil enumeração. O princípio fundamental da existência de tais agrupamentos religiosos é a pretensão de serem verdadeiros. Se todas as religiões fossem verdadeiras, suas doutrinas seriam comuns, seus deuses praticamente seriam os mesmos, o fundamento e a finalidade delas seriam análogos. Mas isso não acontece. Só uma religião pode ser verdadeira e as outras, falsas em graus diferentes de fraudulência.

Vários critérios podem ser usados para diferenciar a religião verdadeira das que não o são. Mencionaremos dois critérios: o da temporalidade do grupo religioso; quer dizer que uma religião que existiu alguns anos e logo não tem vigência, não pode ter a característica de ser veraz. Outro critério: consciência da revelação divina; Nenhuma expressão religiosa surgida pelo esforço racional da mente ou impulso de algum tipo de sentimento pode ser verdadeira, pois precisa da revelação divina através de seus servos, os profetas. A religião do povo de Israel estava assentada sobre a revelação divina desde o período patriarcal. Deus Se revelou ao povo de Israel através das Suas mensagens e do Seu poder: na vida de Abraão, no Êxodo, na peregrinação pelo deserto, na posse da terra de Canaã, na vida de Elias enfrentando os sacerdotes de Baal, etc. O símbolo mais eloquente da religião de Israel como expressão verossímil era o Tabernáculo do Senhor ou o Templo de Jerusalém. Ali, o israelita podia exprimir sua adoração a Deus, consciente da Sua revelação.

Durante o período do exílio babilônico, o povo judeu estava desprovido do símbolo da sua religiosidade: o Templo. Seu sentimento de adoração ficou então mais anuviado pela autoridade vigente que impunha, mediante seu poder civil e religioso, a obrigatoriedade de adorar a imagem da religião babilônica. Assim tinha sido nos tempos pretéritos, quando os amigos de Daniel foram colocados em situação de testar sua fé, como adoradores da verdadeira entidade divina a quem é tributada essa adoração. Não era momento de balançar sentimentos de adoração entre duas forças antagônicas, que impõem a seus fiéis adoração e obediência; mas de confirmar a fé.  Os três jovens hebreus passaram a prova declarando que eram adoradores do único Deus verdadeiro que Se revela através das Suas Leis e do Seu poder.

Apesar das ameaças proferidas, os jovens hebreus manifestaram sua profunda convicção da revelação divina e afirmaram que, mesmo que Deus não revelasse Seu poder naquelas circunstâncias, eles ainda assim continuariam a adorá-Lo. Mas o verdadeiro Deus Se revelou novamente mostrando Seu poder salvador ao livrar os jovens dos efeitos do fogo devorador.

A RESTAURAÇÃO: ONDE ESTÃO AGORA SEUS ANTEPASSADOS?
Em 539 a.C., Ciro, rei dos medos e persas, destruiu a orgulhosa nação babilônica e, guiado pelo Deus que ele não conhecia (Is 45:5), resolveu libertar e permitir o retorno dos exilados a seus territórios originários respectivos, para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas (Ed 1:1). O decreto emitido por Ciro era genérico na sua essência, pois permitia o livramento dos cativos de todas as nações; mas, por respeito ao povo judeu, tinha um caráter específico, pois determinava a reconstrução do Templo de Jerusalém, conforme o “Senhor, Deus dos Céus” assim o requeria (Ed 1:2, 3). O próprio soberano dos reinos conquistados se tornou o principal patrocinador do nobre empreendimento. Para isso, ele dispôs que tesouros fossem ofertados para a realização de tão sublime projeto (Ed 1:4), as despesas seriam pagas pelo reino, e os tesouros do Templo, arrebatados por Nabucodonosor, seriam devolvidos (Ed 6:4, 5).  Tudo parecia ser favorável para concretizar a magna obra.

Na planície desértica da Mesopotâmia, os ventos que conduziam as partículas arenosas do solo se tornaram testemunhas de eventos negativos ao projeto divino.  Ciro, o grande incentivador da construção do Templo de Jerusalém, caiu morto, atravessado pela ponta fatídica de uma flecha lançada na fragorosa batalha contra os Magetas, tribo oriental conduzida pela rainha Tomiris (530 a.C.). Seu filho primogênito, Cambises II, foi declarado seu sucessor. Era um jovem indolente, com ambição de poder egoísta, impulso que o levou a mandar assassinar seu irmão Bardidja, chamado também Smeridis. Cambises, inexperiente no manuseio das coisas do reino, demonstrou indiferença na continuação dos projetos de seu pai. Empreendeu conquistas territoriais chegando a ocupar o norte do Egito (522 a.C.), quando foi informado da usurpação do seu trono por parte do seu irmão Bardidja. Cheio de incertezas, preferiu tirar-lhe a vida, não suspeitando tratar-se de um falso usurpador. Então, Dario Histaspes ocupou o trono.

No lento início da construção do Templo, inimigos do povo judeu se levantaram para impedir que o magnífico edifício fosse erigido. A autoridade política que respondia por esse território diante do governo de Dario procurou impedir o prosseguimento da obra mediante carta acusadora enviada ao rei (Ed 5:3-17).

Os judeus que voltaram a Jerusalém foram afetados por essa névoa política, permitindo que a indiferença às coisas espirituais enchesse suas mentes conturbadas.  A tendência era buscar o conforto pessoal construindo residências custosas em detrimento do interesse pela construção do Templo cujas ruínas ainda eram visíveis (Ag 1:4). O esforço para conseguir o bem material os levava ao extremo irresistível de trabalhar com denodo, recebendo como recompensa apenas o necessário para satisfazer a cobiça prazenteira. As palavras proféticas bem ilustram essa condição: “Tendes semeado muito e recolhido pouco; comeis, mas não chega para fartar-vos... e o que recebe salário, recebe-o para pô-lo num saquitel furado” (Ag 1:6).

Naquela condição anômala de comportamento social dos judeus, Deus, na Sua misericórdia, deixou ouvir Sua voz por intermédio dos profetas para estimulá-los a viver uma vida de esperança e satisfação real (Es 5:1). Uma severa admoestação foi pronunciada pelo profeta Zacarias, que recebeu a voz reveladora de Deus no segundo ano de governo do rei Dario (520 a.C.). Lembrando-se da indiferença dos antigos líderes do povo judeu que não inculcaram nas novas gerações a dependência do poder de Deus, o profeta destacou: “O Senhor Se irou em extremo contra vossos pais”; em seguida, os advertiu: “não sejais como vossos pais” que seguiram por “maus caminhos” e concluiu a reprimenda esclarecendo o fim funesto dos anciãos: “Onde estão eles?” (Zc 1:1-5).

A ação profética foi determinante para que o entusiasmo ressurgisse e os judeus reiniciassem a obra, liderados por Zorobabel e o sumo sacerdote Josué (Ag 1:12). A obra alcançou seu objetivo. Sobre a parte mais alta da colina de Moriá, resplandecia o Templo, não com o brilho refulgente do primeiro, mas com a esperança renovadora que só um lugar de adoração pode oferecer. A dedicação desse Templo foi um ato de regozijo apoteótico porque exaltava o nome do Senhor. Era o sexto ano do reinado de Dario (516 a.C.) quando o Templo já edificado, símbolo da presença divina, culminava com a promessa renovadora de Deus predita pelo profeta Jeremias: “Logo que se cumprirem para Babilônia setenta anos, atentarei para vós, ... tornando a trazer-vos para este lugar. ... Então Me invocareis. ... Buscar-Me-eis e Me achareis quando Me buscardes de todo o vosso coração” (Jr 29:10-13).

Assim, o Templo, novamente passou a cumprir sua função sublime de ser lugar de adoração.