URIAS: A FÉ DE UM ESTRANGEIRO
Ivanaudo Barbosa
Objetivo deste estudo: Mostrar que a fidelidade não depende de onde nascemos, nem de nossa posição social, raça ou família.
Verdade central: Urias foi leal e fiel em meio às provas e tempestades da vida.
INTRODUÇÃO:
Nesta semana, vamos estudar a vida de um homem que, apesar de não ser um israelita de nascimento, nos legou um exemplo de fé, nos brindou com um modelo de lealdade e de firmeza quanto aos princípios éticos que poderão ajudar os cristãos em sua caminhada. Para construir a história desta semana, levaremos em conta os seguintes personagens: Urias, o soldado fiel de Davi; Davi, o monarca que praticou uma crueldade sem limite; Bate Seba, a viúva vítima; Joabe, o comandante sem escrúpulos e os servos do palácio.
As circunstâncias em que os fatos aconteceram estão divididas em quatro apresentações distintas: O palácio real, o campo de guerra e os pecados de Davi e suas tentativas para escondê-los. E há a quarta seção: a ordem final de Davi para matar Urias. (Note: Davi se arrependeu e foi perdoado. Mas não analisaremos esse assunto neste estudo).
I. Quem era Urias e em quem se tornou?
Urias era chamado de heteu ou hitita. Os heteus viviam ao norte de Israel por ocasião da colonização da terra por parte dos israelitas. Foram um grande império no passado. Hoje, a região da Turquia abarca uma parte do que foi esse antigo império. Deus havia dado uma missão clara e definida aos israelitas: Eles deveriam colonizar a terra e todos os povos. E as pessoas que desejassem pertencer ao povo de Israel seriam aceitas. Os estrangeiros aceitos em Israel podiam oferecer sacrifícios (Lv 17:8). Podiam participar das principais festividades da nação (Dt 16:11 e 14). E se aceitassem ser circuncidados, poderiam inclusive participar da cerimônia da Páscoa (Êx 12:43 e 48). O Antigo Testamento está cheio de exemplos de estrangeiros que aceitaram o Deus de Israel, e a Bíblia considera positivamente sua integração a Israel. Veja outros exemplos: Rute que era moabita e Raabe que era cananita não somente aceitaram o Deus de Israel, como se tornaram ancestrais de Jesus Cristo.
Quem foi Urias?
1. Urias se tornou israelita por escolha, aceitando o verdadeiro Deus.
2. Ele se casou com Bate Seba que era filha de Eliã (2Sm 11:3). Se era o mesmo Eliã, filho de Aitofel, gilonita mencionado em (2Sm 23:34), então, Urias realmente se casou com uma família muito influente. Seu sogro também teria sido um guerreiro de elite e filho do estimado conselheiro de Davi.
3. Urias foi um dos soldados da Elite de Davi (1Cr 11:41).
4. Urias foi um soldado leal e fiel tanto a Deus como a Davi.
5. Seu nome significa: “Minha luz é o Senhor” ou “Chama do Senhor”.
6. Ele tinha muito respeito às coisas sagradas.
7. Não se deixou comprar nem vender por ganhos pessoais.
8. Foi um soldado exemplar.
9. Foi um homem de fé.
10. Era regido por princípios.
Ellen White diz de Urias: “Urias, o heteu, [era] um dos mais corajosos e fiéis oficiais de Davi” (Patriarcas e Profetas, p. 718).
Pergunte aos seus alunos
Alguns de nós nascemos Adventistas do Sétimo Dia, outros vieram de outras crenças e até do paganimo para se tornar ASD. Por que alguns ASD são tão indiferentes na fé e outros que vêm de fora são tão fervorosos. Por que isso acontece?
II. A queda de Davi
Enquanto Davi era pobre, fugitivo e perseguido por Saul, manteve-se fiel e dependente de Deus. Mas ao alcançar a glória e a posição de Monarca, ele começou a imitar os reis de seu tempo. Todo drama começou quando o exército de Israel marchou contra Rabá, uma cidade Amonita que ficava cerca de 65 quilômetros de Jerusalém. Em vez de ir pelejar com seu exército, Davi se acomodou em seu palácio. Esse foi, sem dúvida, seu primeiro erro. Ellen White acrescenta: “E, em vez de confiar humildemente no poder divino, começou a confiar em sua própria sabedoria e poder” E mais, “foi o espírito de confiança e exaltação próprias que preparou o caminho para a queda de Davi. (Ellen G. White, Vidas que Falam [MM 1971],p. 177). Parecia que, enquanto o exército de Davi cercava a cidade, o diabo cercava o coração de Davi.
Os fatos
Davi estava com a mente vazia. “Mente desocupada, é oficina de Satanás.” Enquanto passeava pelo palácio real, viu uma mulher tomando banho. Como já era poderoso e tinha assimilado o estilo dos monarcas de seus dias, permitiu que a atração física e a luxúria brotassem de seu interior sem censura. Tinha passado a pensar como os monarcas vizinhos: “Quando deseja algo, toma pela força”. Não mais era regido pela ética e nem pelo temor de Deus, mas pelos impulsos carnais. Os pecados e crimes punidos nos súditos, eram tolerados para os reis. Para os súditos, havia restrições, não para os reis. Então, Davi, após ser informado de quem era a mulher, enviou mensageiros para trazer Bate Seba ao palácio. “O verbo empregado “tomou” Bate Seba é um verbo que indica que a tomou pela força. Este mesmo verbo é usado quando os reis atacaram Ló e sua família e “tomaram” tudo que quiseram, pela força.
Informado por Bate Seba sobre a gravidez, Davi procurou encobrir a situação, ordenando a vinda de Urias a Jerusalém para trazer um relatório da guerra. Após ouvir o relatório de Urias, o rei o despediu e o autorizou a ir para sua casa. Pensando em agradar Urias, enviou-lhe um presente antes que Urias chegasse em casa. Mas Urias se recusou a ir para casa e dormiu com os empregados do palácio. Vendo seus planos serem frustrados, Davi convidou Urias ao palácio novamente e ofereceu-lhe um jantar. Nesse jantar, ofereceu bebida alcoólica a Urias com a intenção de embriagá-lo para que, perdendo a razão, ele fosse para sua casa. Mas Urias, embora com a mente parcialmente embotada pela bebida, se negou a ir para casa. Vendo seus planos frustrados mais uma vez e receando que seu pecado fosse descoberto, enviou uma carta a Joabe pelas mãos de Urias. Na carta, Davi ordenou a Joabe que colocasse Urias em situação de risco para que morresse. E foi o que aconteceu. Com Urias morto, achou-se Davi no direito de tomar a viúva, por esposa.
Sequência dos pecados de Davi
1. Ócio e autoconfiança.
2. Cobiça (Décimo mandamento).
3. Roubo (Oitavo mandamento – Tomou pela força)
4. Adultério (Sétimo mandamento).
5. Mentira, suborno e manobras para enviar Urias à sua casa (Nono mandamento).
6. Intenção maldosa ao dar bebida alcoólica a Urias com finalidade de ofuscar-lhe a mente. “É interessante notar que o mesmo esquema tinha sido usado pelas duas filhas de Ló no passado, o que deu origem aos amonitas (Gn 19:30-38) – o próprio povo contra quem o exército israelita estava lutando.” É um paradoxo, não? Como a historia se repete!
7. Assassinato (Sexto mandamento).
Davi quebrou praticamente todos os mandamentos da segunda tábua da Lei de Deus. Se considerarmos que sua atitude desonrava a Deus e aos seus pais (Quinto mandamento) ele quebrou os seis mandamentos.
Comentário para os alunos
1. Dê exemplos de atos errados que podem representam a quebra de vários mandamentos da Lei de Deus de uma só vez.
2. Davi abusou de sua autoridade, correto? Como alguns líderes (Pais, líderes da igreja local, líderes de Instituições adventistas, etc) têm caído na tentação de fazer a mesma coisa? De exemplos. Qual é seu conselho?
III. Consequências do pecado de Davi:
Se as pessoas pensassem nas consequências de seus atos para si, para os filhos, para a família, para a igreja e para a sociedade, quantos atos deixariam de ser praticados! Davi, não pensou nas consequências que seus pecados trariam.
Vamos alinhar os resultados dos pecados de Davi:
1. O recém-nascido filho de Bate Seba morreu. Já pensou no sofrimento dessa mulher? Perdeu o filho e o marido em curto período de tempo. (Lembre-se de que não foi um caso de amor – Ela havia sido vítima, sem escolha.)
2. Urias, um dos mais valentes e honrados soldados de Davi, foi morto.
3. Vários soldados valentes morreram com Urias. Imagine quantas esposas ficaram viúvas e quantos filhos órfãos?
4. Em resultado dos pecados de Davi, houve um enfraquecimento moral na família. Ele viu em sua família assassinato, incesto (irmão forçando a irmã para relação sexual) e rebelião. O padrão moral de sua família foi de baixíssima qualidade.
5. A vida de Davi e a história de Israel como um todo foram afetadas por essa atitude impensada. Ellen White descreve os anos posteriores de Davi com as seguintes palavras: “Tendo sempre diante de si a lembrança de sua própria transgressão à lei de Deus, Davi parecia moralmente paralisado; era fraco e irresoluto, quando antes de seu pecado era corajoso e decidido. Sua influência junto ao povo se havia enfraquecido” (Patriarcas e Profetas, p. 729).
6. Davi ficou cego. O pecado cega. Ellen White diz: “Davi raciocinou que, se Urias fosse morto pela mão de inimigos na batalha, a culpa de sua morte não poderia ser atribuída ao rei; Bate-Seba estaria livre para ser a esposa de Davi, as suspeitas poderiam ser removidas, e mantida seria a honra real” (Patriarcas e Profetas, p. 719).
7. Davi desonrou a Deus:“Passando-se o tempo, o pecado de Davi para com Bate-Seba se tornou conhecido, e despertou a suspeita de que ele projetara a morte de Urias. O Senhor foi desonrado. Ele tinha favorecido e exaltado Davi, e o pecado deste representou falsamente o caráter de Deus, lançando ignomínia ao Seu nome” (Patriarcas e Profetas, p. 720).
Comentário difícil para o professor e a classe
Urias – honesto, leal, homem de princípios – foi assassinado por seu próprio rei, a quem ele servia fielmente. Davi – desonesto, traiçoeiro, enganoso – ficou com a bela mulher como esposa e viveu muitos anos mais.
Faça seu comentário. O que isso me ensina?
IV. Retrato de um homem de fé
Alguns poderiam pensar: Por que Urias não foi para casa? Afinal, não era um pedido do rei? Não estaria ele sendo demasiado justo ou demasiado fiel? Será que existe condição de alguém ser mais fiel ou menos fiel? Ou existe fiel e infiel?
Razões porque Urias não foi para casa:
1. Em última instância, todos os nossos atos são dirigidos por Deus. Davi poderia ter enganado a todos, menos a Deus. Já estudamos na primeira lição deste trimestre que Deus dirige os acontecimentos da história.
2. Urias demonstrou solidariedade para com seus companheiros de exército. “Eles estão acampados em tenda”, disse ele. “Que direito tenho eu de ir para minha casa de férias e desfrutar da companhia de minha esposa?”
3. Urias conhecia as leis cerimoniais da guerra. Quando um homem ia para a guerra, não deveria ter relação sexual com mulher, para não ficar impuro cerimonialmente, visto que a presença de Deus estava no meio deles (Lv 15:18 e Dt 23:9-11). (Essa lei de pureza era também uma forma de Deus proteger as mulheres conquistadas contra os abusos sexuais dos soldados conquistadores).
4. Urias tinha senso da presença de Deus. Ele mencionou a presença da arca na guerra. (Embora nesse caso a arca não estivesse com o exército). Urias tinha o senso da presença divina entre eles (2Sm 11:11).
5. Sendo homem de princípios, Urias não se deixou ser manipulado.
6. Davi tentou comprar Urias com facilidades e presente. Urias mostrou ser um homem que não se compra nem se vende.
Para sua classe debater
Que contraste! Davi, o rei, ungido por Deus para dirigir as batalhas do Senhor, estava em adultério com uma mulher alheia, enquanto um estrangeiro que tinha aceitado a fé em Jeová, lutava para defender o povo de Deus como um valente e bravo soldado! Como isso pode ser aplicado para aos líderes de hoje?
Conclusão
Podemos destacar neste estudo os principais temas:
1. Deus dirige a história. Nada fica oculto aos Seus olhos. Mais cedo ou mais tarde, tudo vem à tona. E se não vier pelo curso natural dos fatos, o Senhor interfere.
2. O pecado tem consequências sérias. Um ato impensado pode acarretar danos a você, à sua família, à sua igreja e até à sociedade em que você vive.
3. Fidelidade não depende de status social, família, país de nascimento, origem ou educação. Fidelidade depende de entrega sem reservas a Deus – foi isso que Urias nos legou.
4. Deus não faz acepção de pessoas. Ele enviou Jesus para morrer por todos os que nEle confiam e O aceitam pela fé. Foi isso que aconteceu com Urias. Um estrangeiro de fé, salvo pela graça de Deus.
5. Vivemos num mundo que perdeu seus valores morais. A ética, que é a maneira de aplicarmos esses valores à vida diária, está distorcida e hoje em dia, o tipo mais popular de ética é a situacional, que sugere que não existem absolutos morais. Entretanto, para os cristãos, esses absolutos morais ainda permanecem vivos. Oremos ao Senhor para deixamos para os que vêm depois de nós um exemplo semelhante ao de Urias. Amém!
Ivanaudo Barbosa Oliveira é Secretário e Ministerial da União Nordeste-Brasileira