Adotados Pela Graça
Vocês não receberam um espírito que os escravize para novamente temerem, mas receberam o Espírito que os adota como filhos, por meio do qual clamamos: “Aba, Pai”. Romanos 8:15
A vida pastoral tem momentos ricos e inesquecíveis. O pastor acompanha de perto sonhos e problemas dos membros da igreja.
Enquanto eu era pastor na Igreja Adventista Central Paulistana, acompanhei a história de um casal que descobriu que não podia ter filhos. Decidiram adotar uma criança e se cadastraram em uma cidade do Paraná. Como a criança estava demorando a aparecer, também preencheram cadastro em outra cidade. O que aconteceu? No mesmo dia, nasceram as duas crianças! O que fazer? Com qual das duas ficar? Corajosamente, decidiram adotar as duas.
Quase um mês depois, fui visitar o casal com seus dois filhinhos. Não vou esquecer o momento em que a mãe trouxe o bebê que estava acordado, e, segurando-o cuidadosamente nos braços, disse: “Olha só, filhinho! O pastor veio visitar a gente!”
Eu dizia comigo mesmo: “Mas o bebê acaba de ser adotado! Como é que dentro de tão pouco tempo se desenvolveu amor tão grande e um vínculo afetivo tão forte assim?” Estava nos braços da mulher alguém que não tinha nascido dela, mas ela o apresentava orgulhosamente como filho. Quantas histórias bonitas e quantas fotografias mostram a felicidade dos pais com seus filhos adotivos.
No tempo em que Paulo escreveu o texto de hoje, as leis romanas já permitiam a adoção. Na maior parte dos casos, tratava-se da adoção de escravos já em maioridade, que eram comprados para ser libertos. Outros, em situação bem diferente, eram levados para a casa da pessoa que os havia libertado para ser recebidos como filhos, como membros da família.
A adoção é uma das ilustrações que Deus usa para mostrar o relacionamento que Ele quer ter conosco. Quando aceitamos Cristo como nosso Salvador, somos adotados como Seus filhos e começamos vida nova. Temos direito a uma nova posição: não mais a de servo, nem escravo, mas de filhos e filhas.
“Aos que O receberam, aos que creram em Seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1:12).
E quanto à participação na herança futura, somos co-herdeiros juntamente com Cristo, pois o mesmo apóstolo diz: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, pois O veremos como Ele é” (1Jo 3:2).
A Lei de Deus no Coração
“Esta é a aliança que farei com a comunidade de Israel depois daqueles dias”, declara o Senhor. “Porei Minhas leis em sua mente e as escreverei em seu coração.” Hebreus 8:10
Se você estivesse ali, no Sinai, no dia em que a lei de Deus foi concedida, e tivesse escutado tudo o que Ele falou, como você interpretaria o que Deus estava dizendo aos israelitas?
Como Eu o libertei do Egito, você deve fazer exatamente o que Eu estou pedindo. Eu o libertei. Você é livre agora para viver uma vida nova. Aqui está uma lista do que você tem de fazer para comprar sua liberdade.
Seria bom darmos uma olhada no que Deus tinha em mente ao conceder a lei. Os Dez Mandamentos não começam com uma ordem, mas com uma declaração. Antes de dar a lei, Deus disse a Moisés: “Quero que você lhes diga quem sou Eu e o que fiz por eles.”
Antes de qualquer palavra ou ação, Ele Se identificou: “Eu sou o Senhor, o seu Deus, que os tirou da terra da escravidão. Eu fiz por vocês aquilo que não podiam fazer por si mesmos. Assim que, de agora em diante, quero um relacionamento no qual vocês estejam livres da opressão, da escravidão, das coisas que os amarravam.”
Deus estava lembrando não apenas que os tinha criado, mas que os havia redimido. Seu ato de redenção e libertação veio antes da lei. Ele queria lembrar aos israelitas que era um Deus de graça e de amor, que eles não tinham mérito nenhum para que Deus fizesse aquilo por eles. A libertação não foi um prêmio pelo bom comportamento deles. A obediência deveria mostrar gratidão pela liberdade que tinham recebido.
Não gostamos de regulamentos e faixas amarelas restringindo nosso espaço. Não apreciamos leis e restrições quando elas contrariam nossos gostos e caprichos. Queremos espaço, liberdade. Não gostamos de ouvir um “não” para aquilo que temos vontade de fazer.
Por que não podemos ver a lei de Deus não como restrição, mas como um dom da graça de Deus? A graça é o contexto em que a lei foi dada.
“Toda verdadeira obediência vem do coração. Deste procedia também a de Cristo. E se consentirmos, Ele de tal maneira Se identificará com nossos pensamentos e ideais, dirigirá nosso coração e mente em tanta conformidade com Seu querer, que, obedecendo-Lhe, não estaremos senão seguindo nossos próprios impulsos. [...] Quando conhecermos Deus como nos é dado o privilégio de O conhecer, nossa vida será de contínua obediência” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 668).
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A Alegria de Jesus
Tenho-lhes dito estas palavras para que a Minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa. João 15:11
A maioria das figuras e imagens que retratam Jesus mostram-nO em Suas ultimas três horas de vida. Rosto sangrento, pálido e cheio de sofrimento. Outras figuras O mostram como alguém sério e circunspecto. Se você pensa em Jesus como alguém sempre franzindo a testa, suspirando de indignação, uma pessoa severa, está longe da verdade.
Felizmente, de algum tempo para cá, apareceu aquilo que tinha sido considerado quase como um sacrilégio: Jesus sorridente, bronzeado, cheio de vida. Um Redentor com leveza no andar e simpatia no olhar. Mesmo que ninguém tenha registrado que Ele sorriu, não tenho dúvida de que havia em Seu rosto um cordial sorriso franco, cheio de sinceridade.
Isso mesmo! O Homem que veio nos salvar irradiava alegria por onde quer que andasse. Se Seu semblante fosse o de uma pessoa sisuda, não teria atraído para Si as multidões como o fez. Marcos afirma em seu Evangelho que “a grande multidão O ouvia com prazer” (Mc 12:37). Era bem diferente do semblante carregado dos dirigentes religiosos da época.
Ele foi o verdadeiro agente da alegria. Na parábola dos perdidos e achados, houve alegria. No leproso que voltou para agradecer; no cego que voltou a ver; no paralítico que andou; no surdo que ouviu, em todas essas ocasiões e pessoas houve alegria. Ela também existiu quando Ele alimentou a multidão, recebeu as crianças e acalmou a tempestade. E que imensa alegria deve ter havido na manhã da ressurreição, quando Ele falou para as mulheres “Salve!” (Mt 28:9). Foi como se estivesse dizendo: “Alegrem-se!”
A alegria que Ele dá é muito mais duradoura do que a hilaridade e o burburinho efervescente que terminam depois de uma festa. No pacote da graça, está incluída a alegria e Deus nos dá essa alegria todos os dias: nas gargalhadas de um bebê, no seu sorrisinho quando está dormindo, no canto do pássaro, no orvalho da manhã, no alarido das crianças, no brilho do céu, na formatura dos filhos, quando os noivos dizem “sim” no altar...
Por que não decidir ter hoje um dia com aquele sentimento de paz, bem-estar e alegria que só Jesus sabe dar?
“A alegria é a bandeira desfraldada no castelo do meu coração, pois o Rei está hospedado nEle” (autor desconhecido).
Fãs ou Seguidores de Jesus
Nem todo aquele que Me diz: “Senhor, Senhor”, entrará no reino dos Céus. Mateus 7:21
Você já deve ter escutado esta história várias vezes. Vou repeti-la como técnica de reforço. É a história de Charles Blondin, famoso equilibrista francês. Quando visitou os Estados Unidos, ficou fascinado com as cataratas do Niágara. Decidiu atravessá-las equilibrando-se em um cabo de aço. Extensão da travessia: 330 metros. Altura: 220 metros.
Cem mil pessoas se reuniram para ver a façanha. Era um negócio de vida ou morte. Não havia rede de segurança. Blondin atravessou a primeira vez. Na segunda vez, tirou fotografia das pessoas. Numa outra vez, levou uma cadeira e ficou em pé nela. Em outra, preparou um omelete. E então atravessou com um carrinho de mão. Foi aí que se aproximou da multidão e perguntou: “Vocês acreditam que eu consigo atravessar?” Claro, todos acreditavam. “Quem quer entrar no carrinho?”, perguntou Blondin. Fez-se grande silêncio. Então, um homem, Harry Colcord, que conhecia Blondin e tinha trabalhado com ele, e o havia visto atravessar cem vezes, entrou no carrinho de mão e foram para o outro lado. Blondin tinha milhares de fãs, mas apenas um seguidor.
Estrelas da TV e do cinema, jogadores e heróis têm seus fãs. Às vezes, esses fãs assistem ao espetáculo em que seus ídolos se apresentam. Fora isso, nenhum compromisso.
Conhecemos pessoas que são fãs de Jesus, mas nunca elevam seu nível de compromisso com Ele. Permanecem apenas como fãs. Há muitos que visitam nossas igrejas e ficam maravilhados, se desdobram em elogios. “Que ensinamentos bonitos vocês têm! Como seria se mais gente soubesse disso! Que música inspiradora! Senti-me perto do céu!” “Os anjos estavam cantando com vocês!” Outros dizem: “Gente, era isso que eu estava precisando. Eu quero conhecer mais.” Mas, na hora de decidir, deixar de ser fã para se tornar seguidor, colocar-se ao lado de Deus, vacilam.
Lembro-me de quando era pastor da Igreja Adventista Central de Brasília e comecei uma série de estudos bíblicos com uma senhora. Ela recebia como se fosse novidade tudo que eu lhe mostrava na Bíblia. Ao estudarmos sobre a volta de Jesus, percebi a inquietação dela. No fim do estudo, ela disse: “Infelizmente, não vai dar para continuar. Para aceitar isso vou ter que renunciar a muita coisa. E, por enquanto, não estou disposta.”
Fãs ou seguidores de Jesus? Ele disse: “Se alguém quiser acompanhar-Me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-Me” (Lc 9:23).
Experimentar a Palavra de Deus
Achadas as Tuas palavras, logo as comi; as Tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração. Jeremias 15:16, ARA
Há muitos anos, o príncipe de Granada e herdeiro da coroa da Espanha foi colocado em confinamento numa antiga prisão chamada “Praça da Caveira”. Deram-lhe apenas um livro: a Bíblia. Depois de 33 anos de prisão, ele faleceu.
Ao visitarem a cela onde ele estivera por tanto tempo, encontraram algumas anotações nas paredes. Aqui estão algumas: o Salmo 118:8 é o verso central da Bíblia; Esdras 7:21 contém todas as letras do alfabeto, exceto a letra J [na língua dele e na versão que ele usava]; não encontramos na Bíblia nenhuma palavra com mais de seis sílabas.
O príncipe aprendeu fatos bíblicos, mas aparentemente nada mais significativo ou inspirador para sua vida ou a de outros.
Ao nos aproximarmos da Bíblia, podemos ser beneficiados com sua leitura, fazendo duas perguntas simples: (1) O que isso significa? (2) Como posso viver isso?” Na primeira pergunta, vemos a Bíblia como livro de estudo. Na segunda, como livro devocional.
Para responder à primeira pergunta, temos que ler, comparar versões, ter dicionários e comentários para ajudar na pesquisa. É bom para exercitar a mente. Mark Twain dizia: “Muitas pessoas se incomodam com aquelas passagens das Escrituras que não entendem, mas para mim são justamente as passagens que eu entendo, as que me incomodam.”
A resposta à segunda pergunta leva mais tempo para ser encontrada. Requer disciplina e entrega. Sinto que o texto lido tem que ver comigo e foi escrito para mim. Pergunto-me também: Preciso imitar alguém? Diante do que li, devo assumir algum compromisso ou realizar alguma mudança? Há alguma promessa para mim?
É nesses momentos devocionais que as palavras de Deus nos trazem conforto, inspiração e ânimo. Estamos vivendo num tempo curioso. Nunca foram vendidas tantas Bíblias como no presente. Podemos encontrar Bíblias em diferentes traduções, com diferentes capas, para ler de perto e de longe. Foram feitas edições especiais para mulheres, universitários, jovens, desbravadores, etc., na esperança de incentivar a leitura. Mas nem por isso estamos lendo mais. Nossos encontros com ela são apressados, encaixados na agenda lotada. Devemos lembrar que são esses momentos que vão nutrir a vida espiritual e fortalecer a fé. Do contrário, vamos sofrer de “anorexia bíblica” por apenas mordiscar a Palavra.
Imitemos o profeta: “Achadas as Tuas palavras, logo as comi; as Tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração”.
Decisões Impulsivas
Então Jacó serviu a Esaú pão com ensopado de lentilhas. Ele comeu e bebeu, levantou-se e se foi. Assim Esaú desprezou o seu direito de filho mais velho. Gênesis 25:34
A diferença entre os gêmeos levantou preferências desiguais entre os pais, e alimentou um favoritismo cada vez mais visível. Como ocorre hoje nas famílias: filhos diferentes em temperamento e inclinações. Um gosta de esportes, de sair, andar. O outro gosta de ler. Enquanto um vai à praia surfar, o outro gosta da internet. Um gosta de mexer no carro, o outro gosta de música.
São dois rapazes diferentes assim os atores da próxima cena. Um se chama Esaú. Gosta da vida ao ar livre: de caçar, subir, descer, acampar. Eu o imagino um tipo musculoso, vestindo colete de couro, calçando botas de cano curto. E em lugar de um bom carro, usando uma dessas picapes com tração nas quatro rodas que anda por estradas difíceis. Jacó, que cuidava dos interesses da família, gostava de ficar na tenda com os trabalhadores e o rebanho.
Um dia, Esaú voltou de uma de suas caçadas na qual não tinha ido bem. Estava exausto e faminto. Quando você está com fome, o cheiro de comida assume poder de atração maior. Especialmente aqueles pratos cujo aroma é difícil de esconder: pão quentinho, pipoca, milho assado.
Ao se aproximar do acampamento, o olfato levou Esaú à tenda de seu irmão, que tinha preparado um ensopado de lentilhas. Esaú disse: “Mano, não aguento mais! Faz tempo que não como um ensopado.”
Em qualquer família o mais comum seria dizer: “Tem bastante. Pode pegar. Sente aí. Vamos comer juntos!” Mas o que vemos faz parte de uma trama incrível. “Vamos negociar”, disse Jacó. “Você me vende seu direito de filho mais velho e eu lhe dou a comida. Feito?”
Esaú não demonstrou respeito nenhum pela família, nem por sua honra. Deixou-se levar pelo apetite e menosprezou a primogenitura.
A Bíblia tem muito a dizer sobre nossas escolhas. E nos adverte para não deixarmos de lado privilégios espirituais em troca da satisfação momentânea dos sentidos.
Jesus deixou de lado Seu direito à “primogenitura” para nos salvar. Da nossa parte, vamos recebê-la como um presente da graça de Deus.
“Contudo, aos que O receberam, aos que creram em Seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1:12).
Esse é o Salvador de que todos necessitam.
O Sabor da Fofoca
Boatos e “fofocas” são o prato preferido de muita gente. Certas pessoas sempre querem um pouco mais, estão sempre com fome. Provérbios 26:22, A Bíblia Viva
Você já deve ter escutado a história do pastor que tinha em sua igreja duas irmãs fofoqueiras. Um dia, elas viram o carro dele estacionado na frente de um bar, e começaram a espalhar pela igreja que o pastor tinha problemas com bebida.
Sem que o pastor soubesse, a história se espalhou. Ao descobrir quem estava por trás do boato, o ministro deixou seu carro estacionado durante a noite em frente a casa daquelas irmãs.
Apesar de não concordarmos com a maneira original de o pastor lidar com o problema, sabemos dos males que a fofoca pode causar. Basta somar a uma situação inusitada, uma pessoa conhecida e importante, e pronto: temos elementos suficientes para a fofoca.
Na fofoca, procuramos desacreditar alguém ausente. Espalhamos notícias que fazem com que as pessoas pareçam más. Pode até ser verdade o que estamos dizendo, mas se estamos fazendo isso com a intenção de causar dano e diminuir outra pessoa, estamos incorrendo em erro, fazendo fofoca.
Às vezes, começamos dizendo: “É apenas uma preocupação, mas o que é que você acha de...?” Ou em tom de segredo: “Você soube? Não é mentira. Eu vi. Eu ouvi. Eu estava lá. É verdade mesmo!” E daí recitamos uma suculenta fofoca que vai render durante muito tempo, motivada por inveja, vingança, ou pelo desejo de nos fazer mais importantes do que a outra pessoa.
A fofoca pode ser altamente destrutiva no ambiente de trabalho. A pessoa alvo da fofoca passa a ser vista como indigna de confiança e fica fora da lista de promoções ou de serviços especiais. Cria-se, assim, um ambiente difícil, gerado pela fofoca. E quando a pessoa está decidida a fofocar mesmo, aumenta sua rede de contatos por meio do telefone e do e-mail.
O tecido das relações humanas deve ser entremeado de lealdade, transparência e franqueza. Se você notar que a conversa está rumando para a fofoca, mude de direção. Com tato, procure fazer com que a conversa volte ao nível da troca de informações e de ideias. Se você acha que durante o dia ultrapassou o limite, confesse a Deus sua falta por ter escutado e dado atenção à fofoca.
“Ó Deus, examina-me e conhece o meu coração! Prova-me e conhece os meus pensamentos. Vê se há em mim algum pecado e guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139:23, 24, NTLH).
Gideão, o Herói Relutante
Com a força que você tem, vá libertar Israel das mãos de Midiã. Não sou Eu quem o está enviando? Juízes 6:14
Gideão foi interrompido por Deus quando cumpria fielmente suas tarefas, malhando trigo no tanque de prensar uvas que pertencia à sua família. Descobriu que o Senhor queria usá-lo para comandar a conquista dos midianitas. Surpreendeu-se com o chamado de Deus. Sua reação ao convite divino foi imediata: “Sou eu mesmo quem o Senhor está procurando? Será que não está enganado?” E continuou: “Meu clã é o menos importante da tribo e eu sou o menor de minha família.”
Gideão não estava seguro de si mesmo. Reagiu igualzinho a nós quando somos confrontados com um convite de Deus. Começamos a fazer perguntas com a intenção de escapar do compromisso. Elas se tornam uma quase desculpa para, em seguida, dizermos “não posso”, “não quero”. “Não vou, porque sou jovem”, “sou pobre”, “estou cansado”, “estou ocupado”, “tenho medo”, “não sei como fazer”, “não é meu ponto forte”.
Outras pessoas da Bíblia também tiveram reações semelhantes: Abraão: “Eu, pai de uma grande nação?” Moisés: “Como é que eu vou à presença de Faraó se não sei falar?” Maria: “Como vou ser mãe, se sou virgem?” O que faz desses homens e mulheres heróis? Sua habilidade natural, perícia, treino?
Gideão nunca tinha sonhado em ser líder militar, mas Deus tinha um plano para ele e sempre o lembrava: “A batalha é Minha. Você não precisa temer.” Depois de aceitar o convite, Gideão se surpreendeu com sua capacidade de convocação: conseguiu arregimentar em pouco tempo 32 mil soldados. Porém, Deus disse: “Gideão, você tem gente demais. Diga aos que estão com medo que podem voltar para casa.” Na triagem, 22 mil resolveram que não tinham coragem suficiente. Permaneceram 10 mil.
Deus Se aproximou novamente e disse: “Lembre-se: a batalha é Minha. Tem ainda muita gente.” Depois de um pequeno teste, finalmente ficou a tropa de elite: 300 homens. Deus deixou bem claro que seria na Sua força que eles lutariam. Com armas não convencionais e com a voz amplificada por Deus, alcançaram grande vitória.
Para que Deus o está chamando hoje? Quem sabe seja para sair de sua zona de conforto, ou para fazer alguma coisa além da sua índole natural... Onde você estiver, no seu tanque de uvas, na escola, no trabalho, Deus diz: “Eu sou maior do que seu medo. A batalha é Minha. Eu sou maior do que seus problemas.”
Trabalho em Equipe
Rogo também por aqueles que crerão em Mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um. João 17:20, 21
O Clube de Desbravadores é uma escola permanente para líderes e liderados. Nós ensinamos e eles também nos ensinam.
Há anos, falávamos dos camporis como encontro, reencontro, confraternização, mas pairava no ar um clima de competição: padrão A, B, C, etc. O tempo foi nos ensinando a chegar cada vez mais perto do objetivo de obter maior participação e cooperação, e menos competição.
Os desbravadores também nos ensinam na hora em que estão desenvolvendo as especialidades, como Artes Manuais. A imaginação e a criatividade deles voam bem mais alto que a nossa. Mas é em ocasiões comuns, sem nada especial pela frente, que um impulso ou gesto deixa transparecer a beleza que têm dentro de si.
Certo clube tinha determinado que cada mês sempre haveria um passeio, uma excursão, noite especial ou caminhada. Certa ocasião, fizeram uma caminhada simples, em local um pouco afastado da cidade. Passavam por um trecho de uma estrada de ferro abandonada (e você que já foi juvenil sabe que uma das tentações nessas situações é tentar equilibrar-se sobre os trilhos e andar o maior tempo possível sem cair). E lá iam, um por um. Subiam nos trilhos... Se equilibravam... Desequilibravam... Caíam. Voltavam a subir. Dois desbravadores observaram a cena e concluíram que poderiam andar mais tempo sem cair. Você imagina o que eles fizeram? Simples. Um se colocou do lado esquerdo e o outro, do lado direito. Estenderam o braço um para o outro e fizeram o trajeto sem cair.
Salomão não falava de andar nos trilhos do trem, mas de esforço conjunto. “É melhor ter companhia do que estar sozinho, porque maior é a recompensa do trabalho de duas pessoas. Se um cair, o amigo pode ajudá-lo a levantar-se” (Ec 4:9, 10).
Num pequeno livro de Michael Jordan, intitulado Nunca Deixe de Tentar (Editora Sextante), ele diz: “Prefiro contar com cinco jogadores menos talentosos, porém mais dispostos a fazer as coisas juntos, do que com cinco que se consideram astros e não se mostram dispostos a se sacrificar em prol do conjunto” (p. 56).
Nosso trabalho de nos tornarmos completos não é possível sem a ajuda dos outros. Em João 17, Jesus diz: “Que eles sejam um, assim como Nós somos um” (v. 22).
Se o objetivo é melhorar o desempenho, o melhor é a cooperação, e não a competição.
O Valor do Tempo
Usem o tempo da melhor maneira possível a despeito de todas as dificuldades destes dias. Efésios 5:16, Phillips
A queixa de todos é de que o tempo está passando muito rapidamente. Do começo ao fim do dia, excesso de compromissos e agenda cheia nos levam a crer que o ponteiro de minutos está correndo mais depressa do que há dez anos.
Michel Quoist, em seu poema “Tenho Tempo, Senhor”, diz: “Saí, Senhor. / Lá fora os homens saíram, iam, vinham, andavam, corriam; / As bicicletas corriam, os automóveis corriam, os caminhões corriam; / A rua corria, todo mundo corria. / Corriam, todos, para não perder tempo: / Corriam ao encalço do tempo, para recuperar tempo, para ganhar tempo.”
O Novo Testamento usa duas palavras gregas diferentes para designar a palavra “tempo”. Uma delas é chronos, e tem que ver com tempo governado pelo relógio: levantar, trabalhar, descansar. É o tempo linear, sequencial. Todos os segundos são importantes. Kairos, por outro lado, é medido pelos eventos ou momentos especiais. Quando alguém pergunta: “Você aproveitou bem o tempo?” Você não sabe quanto tempo foi, mas sabe que foi proveitoso para você. Esse é o tempo kairos.
Chronos é a agenda do dia, o cronograma de trabalho. Kairos é o ritmo de plantar, colher, da energia e da fadiga à medida que nos aproximamos da maturidade. É o tempo de qualidade que tem de ser aproveitado e vivenciado. A diferença entre chronos e kairos pode ser ilustrada enquanto estou escrevendo este devocional. Chronos me diz que tenho de entregar os textos em uma data determinada e que devo disciplinar meu tempo. Kairos me diz que não devo me esquecer da caminhada com minha esposa.
A. W. Tozer escreveu: “O tempo é um recurso não reciclável e intransferível. Não podemos guardá-lo ou diminuir sua marcha, retê-lo, dividi-lo ou desistir dele. Não podemos armazená-lo nem economizá-lo para um dia de chuva. Quando ele se perde é irrecuperável. Quando você mata o tempo, lembre-se de que não há ressurreição.”
Precisamos desenvolver novas atitudes e novos princípios na utilização do nosso tempo. Não é perguntar: “Estou fazendo a coisa certa?”, mas sim: “Estou fazendo as coisas da maneira certa?” Que atividades podem ser alteradas ou eliminadas a fim de se ganhar mais tempo para estar com Deus? Que coisas estão me levando a desperdiçar o tempo? TV, internet, indecisão, desorganização, divagação da mente?
O conselho de Paulo é: “Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem; que não seja como insensatos, mas como sábios, aproveitando ao máximo cada oportunidade” (Ef 5:15, 16).
A Lei e o Décimo Mandamento
De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro. 1 Timóteo 6:6
Veja a seção de anúncios dos jornais ou procure descobrir quantas páginas sua revista semanal dedica para propaganda. Abra um site e vão pipocar comerciais com ofertas de tudo o que você imagina.
Os publicitários investem milhões de reais para convencer as pessoas de que a vida delas será incompleta se não tiverem uma casa amplamente mobiliada e um carro último modelo.
A mensagem que escutamos hoje em vozes sedutoras é: compre mais, tenha mais. O carro do início do ano já está antiquado. Compre outro. A mansão de ontem é casa hoje, e barraco amanhã. Compre outra.
Não usamos muito a palavra “cobiçar”. Mas duas palavras que chegam bem perto em significado e atitudes são as palavras “ciúme” e “inveja”. Ciúme é o sentimento que tenho quando alguma coisa que me pertence passa para o controle de outra pessoa. A maior parte dos ciúmes surge quando você perde um amigo, o namorado ou namorada para outra pessoa.
A inveja, por outro lado, é o sentimento de tristeza que tenho quando alguém possui algo que eu gostaria de ter. Você tem o emprego que eu gostaria de ter; tomou meu lugar no time; ou comprou o carro do ano antes de mim.
Cobiça, então, é o desejo desordenado de possuir aquilo que pertence a outra pessoa e que eu acho que vai me fazer feliz. Deposito a atenção e o coração em coisas. Enquanto os outros mandamentos lidam com ações e comportamentos, dizendo “não roube”, “seja leal”, o décimo lida com atitudes: “não cobice”, não concentre sua atenção naquilo que não é seu.
A cobiça também aparece quando nos sentimos insatisfeitos com a maneira como Deus derrama Suas bênçãos; quando nos recusamos a ser gratos pelo que Ele nos deu.
Está errado desejar coisas ou habilidades? Não, mas se torna errado quando nossos desejos por outras coisas nos levam a ficar insatisfeitos com o que temos; a deixar de amar as outras pessoas.
“Não ame os caminhos do mundo. Não ame os bens deste mundo. O amor ao mundo expulsa o amor ao Pai. Praticamente tudo o que existe no mundo – seguir seu próprio caminho, desejar tudo para si e querer parecer importante, não tem nada que ver com o Pai. [...] O mundo e todos os seus desejos mais cedo ou mais tarde sairão de moda, mas o que faz o que Deus quer permanece pela eternidade” (1Jo 2:15-17, The Message).
Firmes na Esperança
Aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo. Tito 2:13
Destruição, angústia, trevas, relâmpagos, trovões, terremotos, tsunamis. Você aguardaria com feliz expectativa um tempo assim? Falamos da volta de Jesus como a grande esperança, e assim deve ser.
No início de meu ministério, eu achava prioritário estudar semanalmente a Bíblia com aqueles que visitavam a igreja. Chegamos com um casal ao estudo sobre a volta de Jesus. Quis passar para eles mais do que eles podiam absorver. Disse que a natureza ia entrar em convulsão, o céu ia se rasgar como um pergaminho, haveria terremotos, etc. Naquele momento, percebi que o homem começou a tremer na cadeira. Procurei acalmá-lo, dizendo que estávamos nos preparando para aquele dia e não precisávamos temer. Dali em diante, fui mais cuidadoso ao apresentar o assunto tanto àqueles com quem estudava a Bíblia, quanto na igreja.
Um item frequentemente repetido quando se fala da volta de Jesus é a grande manifestação de poder que será presenciada naquele dia. Pedro mesmo diz que “naquele dia os céus serão desfeitos pelo fogo, e os elementos se derreterão pelo calor”. Será que vai haver shows pirotécnicos como as cascatas de fogos de artifício na passagem de ano? Que energia é essa que vai ser liberada e desfazer os elementos? Será que Deus vai fazer detonar ao mesmo tempo todos os arsenais do planeta; todas as usinas atômicas do mundo?
O apóstolo nos leva para além dessa ideia. Ele diz: “Todavia, de acordo com a Sua promessa, esperamos novos céus e nova Terra, onde habita a justiça” (2Pe 3:13).
Em 9 de março de 1979, nove satélites espalhados em vários pontos do sistema planetário registraram simultaneamente um evento singular. Na verdade, foi a maior explosão de energia já verificada. O astrofísico Doyle Evans disse que a energia liberada foi 100 bilhões de vezes maior que a emissão de energia do Sol. Se tal explosão de raios gama houvesse ocorrido na Via Láctea, teria incendiado toda a nossa atmosfera.
Temos que nos apresentar naquele dia como os remidos, que dirão: “Este é o nosso Deus; nós confiamos nEle, e Ele nos salvou. Este é o Senhor, nós confiamos nEle; exultemos e alegremo-nos, pois Ele nos salvou” (Is 25:9).
Na graça, não há medo nem temor, apenas boas-vindas. “Venham, benditos de Meu Pai! Recebam como herança o reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo” (Mt 25:34).
Deus é Fiel
Todavia, como Deus é fiel, nossa mensagem a vocês não é “sim” e “não”, [...] nEle sempre houve “sim”. 2 Coríntios 1:18, 19
Entre as várias características mais marcantes desta geração, uma é mencionada repetidamente pelos sociólogos: a de se tratar de uma geração que não se compromete. Há uma fuga de lealdade e compromisso. Homens e mulheres se encontram por uma noite e nada mais. Outros chegam a viver juntos e até dividir as despesas, mas sem compromisso. Esposos e esposas trocam parceiros. Patrões se desfazem de empregados. Atletas e jogadores mudam de time. Para não falar em fidelidade dentro da classe política, onde se diz que “a coisa mais permanente é a mudança”.
A fidelidade é importante em qualquer relacionamento. Uma pesquisa feita entre namorados e noivos indica que é a qualidade indispensável no relacionamento.
No momento em que noivo e noiva estão no altar, a aliança é símbolo de uma promessa permanente. Ao surgirem problemas, em lugar de pensar em sair do relacionamento, devem dizer: “Por que não lutamos para que o relacionamento que era bom volte a ser bom novamente? Podemos acreditar que um erro ou fracasso no começo não significa que tudo vai continuar dando errado.”
A fidelidade de Deus num mundo de incertezas, com muitas placas indicativas e nenhuma direção, é um dos Seus atributos que enche de tranquilidade o coração de Seus filhos. Quando aqueles com quem você contava de verdade “caíram fora” no momento em que mais precisava de apoio e companhia; quando no meio da noite você acorda e se sente muito só, a figura de um Deus fiel é reconfortante e alentadora.
Deus é fiel em Suas promessas: “Eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos” (Mt 28:20). Deus é fiel em Sua esfera da graça: “Minha graça é suficiente para você” (2Co 12:9).
“Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel” (Hb 10:23). “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e para sempre” (Hb 13:8). “As Suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a Sua fidelidade!” (Lm 3:22, 23). Como na canção “Ele é Fiel”:
“Em momentos de dor e através das lágrimas / Há um Deus que é fiel a mim. / Quando a força se vai e canção já não há, / Seu amor é fiel a mim. / Suas promessas está a cumprir, / O que era impossível meu Deus fez por mim...” (Letra e música de Carol Cymbala, versão Ereli Prates).
A Descoberta do Perdão
Tu és um Deus perdoador, um Deus bondoso e misericordioso, muito paciente e cheio de amor. Neemias 9:17
Algumas vezes, no início de um de meus sermões sobre o perdão, a fim de estimular a mente e proporcionar um momento de reflexão no auditório, faço a seguinte declaração, pedindo que respondam se é falso ou verdadeiro: “O perdão de Deus existe antes de eu pedir perdão.” Como ninguém quer se expor, as reações são lentas e se dividem entre falso e verdadeiro.
Vamos pensar um pouco na reação do pai do filho pródigo: Em que momento começou a existir perdão no coração desse pai? Quando viu que o filho estava se aproximando com andar vacilante? Depois de o filho confessar? Ou o perdão já estava antes no coração do pai?
Há muitos que pensam que Deus precisa ser convencido de que deve nos perdoar. E imaginam que Ele quer que Suas criaturas se apaguem, se anulem, mendiguem o perdão. Que rastejem no pó antes de ser perdoadas.
Para surpresa do filho, o pai correu ao seu encontro. Chegou até a interromper o discurso que o filho tinha ensaiado para pedir readmissão no convívio da família.
O pai não jogou na cara do filho tudo o que ele havia feito. Nem perguntou onde havia estado. Não ficou resmungando nem tagarelando, dizendo: “Olha, eu avisei! Bem feito! Vê se aprende e se não faz de novo! Agora pode ir, está perdoado!”
Não houve nada disso. Não houve repreensão nas palavras do pai. Nenhuma afirmação de que ele continuava sendo a autoridade e tinha algo para ensinar ao filho.
Note, não era o pai que estava mudando a opinião em relação ao filho, mas o filho em relação ao pai. Ele descobriu que o pai sempre estivera esperando por ele e que nunca deixara de amá-lo. E o havia recebido não para repreender, mas para restaurar; não para punir, mas para fechar a ferida e refazer o relacionamento. Até deu uma festa para comemorar seu regresso!
Assim, a declaração é verdadeira: o perdão de Deus existe antes que peçamos perdão. É essa certeza que leva aqueles que erraram a se aproximar com mais ousadia; e se aproximar na confiança de que serão recebidos.
Perdão conquistado ou que você ganha deixa de ser perdão. O perdão de Deus é livre, gratuito, sem pendências, porque alguém já pagou antecipadamente por esse perdão.
Não espere uma ocasião especial nem uma emoção maior. Ele está à sua espera. Deus não muda. O perdão já é seu.
Escolha o Perdão
Estejam prontos a perdoar os outros como Deus os perdoou por causa de Cristo. Efésios 4:32, Phillips
Em 1944, os nazistas tomaram como prisioneiro um promissor jovem arquiteto chamado Simon Wiesenthal. Ele presenciou como os soldados nazistas raptaram sua mãe e assassinaram sua avó em casa. Ao todo, 89 parentes dele morreram nas mãos dos nazistas.
Ele estava no campo de concentração em Maunthasen, Áustria, fazendo o trabalho de limpeza no hospital improvisado, quando um dia um soldado nazista, já moribundo, pediu para falar com um judeu.
No fim da tarde, uma enfermeira perguntou para Wiesenthal: “O senhor é judeu?” “Sim”, respondeu ele. “Acompanhe-me”, disse ela.
Assustado, ele a acompanhou até uma sala escura e úmida. Ali estava um soldado nazista que mais lembrava uma múmia, cheio de bandagens, mostrando apenas o nariz e as orelhas. A enfermeira os deixou a sós. O soldado então agarrou o pulso de Wiesenthal e sussurrou: “Meu nome é Karl.” E contou como em retaliação pela morte de 30 soldados nazistas numa mina enterrada, sua unidade juntara 300 judeus em uma casa de três andares na cidade de Dnopropetrovsk, Ucrânia, derramou gasolina e ateou fogo. Os soldados de Karl cercavam a casa e atiravam nos judeus que saltavam pela janela para escapar das chamas.
“Foi horrível”, disse Karl. “Eu vi um homem com uma criança nos braços; suas roupas estavam em chamas. Ao seu lado, sem dúvida, estava a mãe da criança. Ele pulou pela janela com o filho. Em seguida, pulou a mãe. De outras janelas, corpos em chamas caíam e nós atirávamos neles.”
Karl explicou por que havia solicitado a visita. “Eu sei que o que vou pedir é muito para você. Mas sem sua resposta eu não posso morrer em paz.”
Então o soldado perguntou: “O senhor me perdoa pelo que eu fiz?”
Wiesenthal permaneceu silencioso e se retirou da sala sem dizer uma palavra. Anos depois, ao escrever seu livro O Girassol, colocou no fim dele uma pergunta: “Você que acabou de ler este episódio, coloque-se em meu lugar: O que você teria feito?”
Perdoar é uma decisão dolorosa e difícil. Quanto mais profundas são as feridas, mais tempo necessitam para sarar. Mas não perdoar amarra você ao passado. Por isso, a melhor escolha – em primeiro lugar, para seu bem, e depois para o bem do culpado – é perdoar. Nesse processo, somente a intervenção da graça de Deus dará palavras apropriadas ao ofensor e coração terno ao ofendido.
Reconciliação e Perdão
Façam todo o possível para viver em paz com todos. Romanos 12:18
Em seu livro A Arte de Perdoar (p. 27), Lewis Smedes apresenta a diferença entre perdão e reconciliação: “É necessário uma pessoa para perdoar. São necessárias duas para a reconciliação. O perdão acontece na pessoa que foi ferida. A reconciliação acontece no relacionamento entre as pessoas. Podemos perdoar alguém mesmo que ele nunca diga ‘sinto muito’. Não podemos nos reconciliar verdadeiramente, a menos que a pessoa sinta pelo que fez.”
O ideal é que o perdão leve à reconciliação, e como o próprio nome sugere, que retorne a harmonia que havia antes. Podemos dizer que a reconciliação é o perdão trabalhado dos dois lados. Ela se faz necessária quando a paz foi quebrada e uma semente de hostilidade foi plantada.
Como é que vou estar em paz com Deus se ainda alimento raiva contra um irmão? Como vou estar alegre se ainda há um resto de ódio em meu coração contra alguém? Como vou ficar cheio do Espírito se ainda me sinto ofendido pelo que meu irmão falou de mim?
Um conselho prático de Jesus em relação à reconciliação foi: “Vá primeiro reconciliar-se com seu irmão” (Mt 5:24). Paulo, fazendo eco a essas palavras, disse: “Apaziguem a sua ira antes que o sol se ponha” (Ef 4:26). Quer dizer, mesmo que você seja a parte inocente, procure o ofensor. Não deixe a adrenalina subir. Não permita que a imaginação fique a ensaiar frases, imaginando como “dar o troco”. Isso levará a uma progressão de raiva, tornando difícil o entendimento e a reconciliação. É preciso nos prevenir para que pequenas ofensas não nos atrapalhem e cresçam, à medida que o tempo passa.
Por outro lado, não sejamos utópicos, dizendo: “Vai dar tudo certo”, “Vai ser fácil”, “Vai ficar melhor do que antes.”
Para que a reconciliação aconteça, é necessário que a confiança seja reconstruída. Tenho que abrir meu coração e me tornar acessível para a pessoa com quem desejo me reconciliar, mesmo que ela não peça perdão. Nesse caso, temos que nos contentar com menos.
O perdão precisa estar presente antes que o ofensor se aproxime. Ao perdoar, removemos obstáculos; derrubamos o muro que nos separava.
Temos duas escolhas: perdoar ou abrigar amargura no coração. “Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo” (Ef 4:32).
Transmitindo o Perdão
Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros. Efésios 4:32
Smuts van Royen, ex-professor da Andrews University, conta a história de um jovem paciente internado no Hospital de Loma Linda que solicitou a visita de um pastor. Assim que o pastor entrou no apartamento, o rapaz falou: “Desculpe, foi um equívoco da minha parte. Por favor, saia do meu apartamento. O senhor não pode me ajudar.” O pastor disse: “Recebi seu telefonema. Vim de longe para atendê-lo. Diga-me, em que posso ajudar?” “Pastor, fui longe demais. Cometi o pecado imperdoável. Tudo o que o senhor disser vai ser irrelevante. Muito obrigado por ter vindo. O senhor pode sair.”
O rapaz havia combatido na guerra do Vietnã e tinha perdido parte do braço. O pastor insistiu para que ele contasse sua história.
“Pastor, fui aluno de um dos nossos colégios, mas veio a época em que fiquei cansado de tudo. Larguei o colégio, a namorada e me afastei de Deus. Logo depois me inscrevi no serviço militar. Colocaram-me no treinamento básico e, para minha surpresa, descobri que tinha a capacidade natural de atirar com precisão.
“Quando terminou aquela fase de treinamento, fui indicado para o grupo dos ‘boinas verdes’. Enviaram-me para o Vietnã. No dia seguinte ao da minha chegada, me deram um fuzil com mira telescópica, levaram-me de helicóptero até um ponto estratégico. Ali subi numa árvore e fiquei à espera de que alguém aparecesse no caminho. Então, escutei uma voz que dizia: ‘Sam, o que é que você está fazendo aqui?’ Lembrei-me da Escola Sabatina das crianças, do coral. Nisso apareceu alguém. Apontei o fuzil e atirei. Voltei arrasado para o acampamento, mas o pessoal falou que dentro de alguns dias tudo seria natural. Matei muitos de maneira fria e calculista. Será que Deus vai me perdoar?”
O pastor leu Isaías 1:18: “Embora os seus pecados sejam vermelhos como escarlate, eles se tornarão brancos como a neve.”
Seis semanas se passaram sem que houvesse melhora em seu sentimento de culpa, até que um dia, ao entrar no quarto do rapaz, o pastor percebeu um brilho em seu rosto.
“O que aconteceu?”, perguntou o pastor. “O senhor não vai acreditar! Ontem, quando o senhor estava sentado perto de mim, olhei nos seus olhos e vi que o senhor tinha me perdoado. Aí eu disse: ‘Senhor, se o pastor como homem me perdoa pelo que fiz, Tu também vais ser tão bondoso como ele!’”
O que as pessoas que erraram estão vendo em nossos olhos? Compreensão, compaixão, alívio para as feridas?
A Solução Está Perto
Então Deus lhe abriu os olhos, e ela viu uma fonte. Gênesis 21:19
Quem já fez longas caminhadas em regiões arenosas, onde se escuta apenas a sua própria respiração e o roçar do tênis na areia, tem uma leve noção do que é caminhar no deserto. A mesma paisagem, grãos de areia jogados no rosto pela brisa, arbustos secos e o uivar do vento nas rochas e arbustos. São caminhadas cansativas e o desejo de chegar é permanente.
Esta é a história de uma fuga, de um exílio, mas também a história de um encontro. Em sua primeira fuga, ao se encontrar com o anjo perto de uma fonte, Hagar deu um nome para Deus: “Tu és o Deus que me vê” (Gn 16:13).
Hagar era escrava, mãe solteira e, por motivos de ciúme de sua patroa, Sara, não tinha ninguém para quem trabalhar. Pegou a rota do deserto – temperaturas escaldantes durante o dia e frias à noite.
Ali estava ela, sem rumo, sem força, sem água, um silêncio amedrontador; quando uma voz quebrou o silêncio. Deus falou para aquela mulher: “O que a aflige, Hagar? Não tenha medo!” (Gn 21:17).
Deus sabia não apenas onde Hagar estava, mas conhecia também a tristeza de seu coração. O anjo lhe assegurou que Deus tinha escutado seu clamor e o milagre ocorreu: O Senhor abriu-lhe os olhos. A solução estava bem perto dela.
Os olhos da mulher estavam cegos pelo desespero. Seus erros estavam além de qualquer conserto. Escondeu-se no sofrimento. Fez-se vítima da situação e começou a ter pena de si mesma.
Então, a voz lhe disse: “Não tenha medo!” Deus não a tinha perdido de vista. O Deus que vê a ajudou a ver um poço próximo dali. Ela não tinha ido além da distância em que a graça pudesse alcançá-la.
Por que ela não tinha visto a água que já estava lá? Pela mesma razão pela qual você e eu não discernimos saídas para nossos problemas.
“Hagar, aqui está você, com muitas preocupações que não sabe como administrar, fardos que não sabe como levar; mas há uma solução.”
Deus estava pronto para escutar a dor do coração de Sua filha e resolver os problemas que ela enfrentava na fuga.
Assim também, Jesus está interessado em nossa história. Ele pergunta a cada um de nós o que é que nos aflige e nos angustia. Não há necessidade que Ele não possa suprir. Ele nos dá outra visão. Você tem bem perto de si um poço, uma fonte.
Por que não orar: “Senhor, abre meus olhos para que eu descubra o que providenciaste para mim?”
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Ajustando as Velas
Como pode ser isso? João 3:9, NTLH
O vento é uma das forças mais poderosas da natureza. Imprevisível e, às vezes, incontrolável. Sentimos a brisa suave da primavera. Mas existem também furacões e tornados que deixam seu rastro de destruição. A invisibilidade não os torna menos reais e poderosos.
Jesus usou uma figura de linguagem para explicar a Nicodemos o novo nascimento. Dirigiu-se ao doutor da lei: “Você não está ouvindo? Deixe-Me repetir. A menos que uma pessoa se submeta a esta criação original – o Espírito de Deus pairando sobre a criação das águas, o invisível movendo o visível, um batismo para uma nova vida –, não é possível entrar no reino de Deus” (Jo 3:5, The Message).
A linguagem de Jesus era tão bonita e convincente que Nicodemos começou a desejar em seu coração o que o Mestre descrevia.
Quantas vezes ao ler um livro, ao escutar um sermão, ao ler um artigo numa revista, sentimos no coração o desejo de mudar a vida. Podemos não nos lembrar do lugar nem do dia, nem de como foi, mas nem por isso a experiência deixa de ser real.
John Ortberg, aproveitando-se da figura de linguagem usada por Jesus, diz que algumas pessoas navegam na vida cristã como se estivessem num barco a remo. Fazem tudo com a própria força, puxando, esticando os músculos. Depois de algum tempo, se cansam e não chegam a lugar algum. Mas quando você compreende a atuação do Espírito, a vida cristã é como navegar num barco a vela. Um bom navegador observa a direção do vento e ajusta as velas. O Espírito é que dará poder para irmos aonde queremos chegar. Novo nascimento é trabalho de Deus; e você e eu temos que nos render a Ele.
“Quando o Espírito de Deus toma posse do coração, transforma a vida. Os pensamentos pecaminosos são afastados, renunciadas as más ações; o amor, a humildade, a paz tomam o lugar da ira, da inveja e da contenda. A alegria substitui a tristeza, e o semblante reflete a luz do Céu. Ninguém vê a mão que suspende o fardo, nem a luz que desce das cortes celestiais. A bênção vem quando, pela fé, a pessoa se entrega a Deus. Então, aquele poder que olho nenhum pode discernir, cria um novo ser à imagem de Deus” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 173).
Que experiência maravilhosa é ir a Jesus e permitir que Ele nos faça nascer de novo!
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20 de fevereiro - Domingo
20 de fevereiro - Domingo
A Palavra que não Volta
“Eu o ouvi em tempo favorável e o socorri no dia da salvação”. Digo-lhes que agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação. 2 Coríntios 6:2
A palavra “agora” é forte. Tem o sentido de pressa, de urgência, de decisão, de ação imediata. O oferecimento é sempre de alguma coisa que parece útil, necessária, urgente.
Em todos os lugares e de muitas maneiras, anúncios e propagandas procuram nos convencer de que aquilo que necessitamos, necessitamos agora. Não podemos esperar um dia mais. Nem mesmo um minuto.
“Não demore, venha agora.” “Não deixe para depois.” “Envie agora seu cupom.” “Ligue agora e aproveite esta oferta com preço reduzido.” “Clique e compre em tempo real.” “Receba seu crédito agora mesmo.” “É só amanhã, a oferta é por tempo limitado.”
São anúncios insistentes, falados apressadamente, com sentido de urgência, dizendo que não podemos ficar sem determinado produto nem mais um momento. São ameaças de perda, caso não nos decidamos agora. Servem para nos pressionar a tomar decisões imediatas. O agora aparece em muitas áreas da nossa vida: aplicações financeiras, esportes, vida social, vida religiosa, etc.
O que vamos fazer com o agora? Aquele livro para terminar de ler, o capítulo da monografia para escrever, o amigo que você devia ter visitado, aquela chamada telefônica, as desculpas que você tem que pedir a uma pessoa a quem feriu, aquele conserto que você tem que fazer em casa... Há tantas pendências em nosso dia a dia, que nos desgastamos temendo um desfecho desfavorável.
Deus conhece o poder das palavras. E ao ver nossa indecisão, Ele diz: agora é o tempo aceitável. Para alguns convites, dizemos “sim” prontamente. Deus, no entanto, de maneira persistente, repete, insiste em dizer que agora é o momento de dizer: “Sim, Senhor”.
Mas o agora de Deus tem que ver com a sua e a minha vida espiritual, porque Ele sabe que, enquanto você estiver enredado, deixando para depois, mais difícil se tornará a saída. A mágoa que não desapareceu, o perdão que não foi dado, o hábito não abandonado, todos esperando uma ocasião melhor. Não espere uma semana de oração, um retiro, a Santa Ceia, o congresso, algum evento futuro.
Quem sabe, há algum tempo você vem lutando para tomar uma decisão, fazer um acerto importante, perdoar alguém, abandonar algum hábito. A graça de Deus vai ser suficiente para você percorrer esse caminho. Agora!
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21 de fevereiro - Segunda
21 de fevereiro - Segunda
Não se Esqueça de Agradecer
Bendiga o Senhor a minha alma! Não esqueça nenhuma de Suas bênçãos! Salmo 103:2
Se eu pedisse a você que fizesse uma lista de presentes que gostaria de receber no seu aniversário ou no próximo Natal, rapidamente viriam muitas opções: uma viagem de férias, um Ipod de última geração, uma bolsa de estudos, etc. Para pedir, somos muito bons, mas quando chega a hora de dizer obrigado... Parece que nos esquecemos de agradecer como fazíamos antes. Você ajuda a pessoa, acompanha, diz tudo como é para fazer, digita, salva-a de morrer afogada, e... “tá bom!”, “até logo!”, “valeu!”.
O pastor de uma igreja incluiu o item gratidão em seus anúncios no boletim: “Nove pessoas perdidas no mar!” Os membros da igreja conversavam entre si: “Quando aconteceu? Quem foi?” A curiosidade era tamanha que o pastor teve que explicar: “Onze pessoas vieram pedir oração porque estavam indo mar adentro para a pescaria e a recreação. Mas somente duas vieram agradecer dizendo que voltaram bem. Imaginei que as outras nove estivessem desaparecidas.”
Com que frequência você expressa sua gratidão? Você se queixa mais ou agradece mais durante o dia? Sua mente está nas bênçãos ou nos problemas?
Em lugar de dizer: “Droga! Essa chuva logo agora!”, diga: “Que bom que estamos debaixo do mesmo guarda-chuva!” Em lugar de dizer: “Que pena que perdemos a vez na balsa. Éramos os últimos”, diga: “Que bom que vamos ser os primeiros a entrar na próxima balsa!”
Rudyard Kipling, grande escritor e poeta, teve o privilégio de viver do próprio sucesso, ganhando muito dinheiro com seus escritos. Certa vez, um repórter disse a ele: “Sr. Kipling, acabo de ler que alguém calculou o dinheiro que o senhor ganhou escrevendo. Mais ou menos cem dólares por palavra.” Kipling franziu a testa e disse: “Eu não sabia.”
O repórter ousadamente meteu a mão no bolso, tirou uma nota de cem dólares e disse: “Sr. Kipling, aqui está uma nota de cem. Poderia me dar uma das suas palavras?” Kipling olhou para a nota um momento, dobrou-a, colocou-a no bolso e disse: “Obrigado!” Ele estava certo. A palavra obrigado vale muito e o sentimento de gratidão muda o sabor do dia.
O Salmo 103 do qual tiramos o texto de hoje é um catálogo de bênçãos pelas quais devemos ser gratos. Ele contém 22 versos, o mesmo número de letras que existem no alfabeto hebraico.
Será que você pode encontrar um motivo para agradecer a Deus em cada letra do alfabeto?
O Convite Para o Banquete
Vão às esquinas e convidem para o banquete todos os que vocês encontrarem. Mateus 22:9
Jesus contou a história do rei que enviou convites para uma festa de casamento. Imagine quem seriam as pessoas convidadas por um rei para um casamento: celebridades, gente da nobreza, da alta corte, estrelas do cinema e da TV. Gente que chega em limusines, Rolls Royces, Mercedes-Benz, BMWs, Ferraris, etc. Com trajes e vestidos de grife dos últimos lançamentos das coleções Dior e Gucci.
Ele a princípio convidou pessoas que fariam a festa parecer mais importante. Não era uma festinha de fundo de quintal para algumas dezenas de pessoas. Ele queria milhares de pessoas.
Mas, diante da recusa de alguns ao seu convite, o rei mandou que os servos saíssem e convidassem a todos, bons e maus. Muitas dessas pessoas você não recomendaria: bêbados, prostitutas, catadores de lixo. Como essas pessoas naturalmente não tinham traje black tie, o rei colocou à disposição deles o guarda-roupa real com grifes que deixariam as da Villa Daslu, em São Paulo, com complexo de inferioridade.
No meio da festa, o rei saiu para cumprimentar os convidados e encontrou no meio deles alguém que, pela maneira de vestir, destoava completamente do restante do grupo. Era o tipo de pessoa que, pelas muitas boas obras que havia praticado, cria que poderia comprar o direito ao banquete.
Quem sabe usasse sapato esporte, calça jeans e um casaco.
A primeira reação do rei foi: “Como é que ele entrou assim nesta festa?” E em seguida falou: “Amigo, você não está usando o traje que eu providenciei?”
Nessas circunstâncias, depois de tudo ter sido providenciado, já imaginou o que seria apresentar-se diante do rei sem as vestes de casamento?
O convite de Deus para participar no banquete não está baseado em nosso passado. Algumas pessoas podem dizer: “É tarde demais. Ele não pode fazer mais nada por mim.” Mas o fato é que Deus envia o convite para todos. Se você se sente impuro e indigno, Ele o tornará digno. Ele vai abrir o guarda-roupa de Sua graça, cheio de vestes fabricadas nos teares do Céu, sem um fio de origem humana.
“Ninguém é tão pecaminoso que não possa encontrar força, pureza e justiça em Jesus, que por ele morreu. Cristo está desejoso de tirar-lhes as vestes manchadas e poluídas pelo pecado, e vestir-lhes os trajes brancos da justiça; Ele lhes ordena viver, e não morrer” (Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 53).
Flechas Venenosas, Balas Perdidas
A língua [dos perversos] é uma flecha mortal; eles falam traiçoeiramente. Cada um mostra-se cordial com o seu próximo, mas no íntimo lhe prepara uma armadilha. Jeremias 9:8
Estudos dão conta de que o homem fala em média 20 mil palavras por dia, e a mulher 30 mil. Daí podemos apenas imaginar ou perceber o poder que está em nossa língua tanto para o bem como para o mal.
Enquanto Tiago compara a língua a um fogo que devora, queima e destrói, Jeremias a compara a uma flecha mortal. Naquele tempo, a flecha era a arma que atingia mais rapidamente uma pessoa. Era inesperada e venenosa, rápida e cortante. Causava feridas profundas.
Quem sabe hoje, se fôssemos atualizar o texto de Jeremias, diríamos assim: “Suas palavras são como tiros de um fuzil de mira telescópica, com silenciador.” Você mal ouve o barulho, mas é surpreendido. Apenas sente o impacto. Não sabe por que e nem imagina quem foi o autor do disparo. Não sabe de onde veio; mas foi atingido.
Existe uma flecha mais venenosa do que essa. É muito mais prejudicial porque não atinge apenas o corpo, mas fere profundamente a alma. É uma flecha que mancha a reputação do outro, inventa o que ele não disse e insinua intenções maldosas, espalha informação falsa sobre os outros com a intenção de feri-los.
É uma flecha que tem arruinado muitos casamentos, e tem feito muitos perderem o emprego e posições. Ela já arruinou o futuro de milhares de pessoas. O nome dessa flecha é calúnia, mas também é conhecida como difamação.
O ditado diz: “A calúnia é como o carvão, quando não queima, suja.”
Os rabinos ensinavam que a calúnia era pior do que o incesto, a idolatria e o tirar a vida de alguém, porque matava três pessoas de uma só vez: o caluniador, o caluniado e quem escutou.
O cristão verdadeiro está convicto de que o tecido das relações humanas está entremeado da verdade. Quando há desconfiança e medo, os relacionamentos são fragilizados. Por isso, hoje todos apreciamos aquilo que chamamos de transparência. Não há nada escondido, mas existe lealdade e consistência.
“Não saia dos vossos lábios nenhuma palavra inconveniente [que fira, machuque, destrua, arruíne], mas, na hora oportuna, a que for boa para edificação, que comunique graça aos que a ouvirem” (Ef 4:29, Bíblia de Jerusalém).
Nossa oração deve ser, neste dia: “Coloca, Senhor, uma guarda à minha boca; vigia a porta de meus lábios” (Sl 141:3).
Integridade
Jacó aproximou-se do seu pai Isaque, que o apalpou e disse: “A voz é de Jacó, mas os braços são de Esaú”. Gênesis 27:22
Rebeca daria uma daquelas atrizes que atuam espetacularmente como espiãs. Elas conseguem informações privilegiadas sem ninguém saber como, nem onde. Ela chamou seu filho Jacó e disse: “Eu ouvi tudo. Seu pai vai abençoar seu irmão. Mas eu quero que você receba a bênção. Vamos armar alguma coisa. Fica só entre nós.” E explicou o plano para Jacó.
A reação de Jacó foi de surpresa. Não discutiu se era certo ou errado, mas se ia funcionar. “Deixe comigo. Vá por mim. Tudo vai dar certo. Fique tranquilo. Não se preocupe. Seu pai não vai descobrir”, disse Rebeca. A bênção seria dada. Significava posses, privilégios e influência. Nessa hora, quando interesses, dinheiro e poder estão em jogo, a integridade deve brilhar como farol, indicando como navegar com segurança.
Ato seguinte: preparo do guisado no “micro-ondas” de Rebeca. Jacó vestiu algo que nunca havia vestido e sem ter ensaiado imitar a voz do irmão, entrou nos aposentos do pai levando a bandeja com o prato preparado ao gosto dele. Isaque, em sua cegueira, duvidou de que em pouco tempo seu filho estivesse de volta com a caça. Nesse ponto, ao dizer que Deus o tinha ajudado a encontrar a caça rapidamente, a mentira de Jacó até então escrita em fonte light, foi reescrita em negrito. O pai pediu que Jacó se aproximasse. “Deixe-me apalpar... deixe-me sentir o cheiro das vestes. Humm... é verdade. A voz é de Jacó, mas as mãos são de Esaú.” Não havia Estatuto do Idoso, nem se falava em falsidade ideológica, mas o que Jacó estava fazendo era o avesso do respeito à experiência; era tirar vantagem da idade e cegueira do pai. Faltava coerência entre o interior e o exterior; consistência entre palavra e ação; entre a voz que falava e as mãos que faziam.
Faltava integridade, palavra que traz em si a ideia de número ou valor inteiro. Não é um valor aproximado, nem fração, porcentagem de outro número. Nem é o 6 virado em 9 ou o 9 virado em 6. Não é um 8 cortado pelo meio.
Quando Isaque disse a Jacó que faltava integridade entre a voz e as mãos, estava advertindo a todos nós para que sejamos verdadeiros naquilo que falamos, que não manipulemos as situações em nosso favor. E que deixemos de lado táticas que demonstrem esperteza.
A promessa para aquele que anda em integridade é: “A luz raia nas trevas para o íntegro, para quem é misericordioso, compassivo e justo” (Sl 112:4).
Crescimento em Cristo
Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo nAquele que é a cabeça: Cristo. Efésios 4:15
Há uma febre e corrida geral pelos suplementos vitamínicos. Os atletas que querem obter melhor desempenho, ganhar ou perder peso, melhorar a velocidade e a resistência são os mais tentados a usá-los.
No crescimento espiritual, também somos desafiados a sair de onde estamos para um estágio melhor. O apóstolo Pedro, falando desse esforço, diz: “Por isso mesmo, empenhem-se para acrescentar à sua fé a virtude, à virtude o conhecimento; ao conhecimento o domínio próprio; ao domínio próprio a perseverança; à perseverança a piedade; à piedade a fraternidade; e à fraternidade o amor” (2Pe 1:5-7).
No início dessa epístola, ele apresenta uma escada de crescimento cristão, e no fim da carta diz: “Cresçam, porém, na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 3:18). Sem ferir a seriedade do texto, poderíamos chamá-lo de “suplemento espiritual”. Por isso, o apóstolo recomenda que sejam acrescentados à fé, e apresenta sete suplementos.
O primeiro degrau no crescimento espiritual é a virtude, excelência moral. O segundo é o conhecimento, especialmente a educação espiritual. Segue-se o domínio próprio ou autocontrole, ou seja, a capacidade de conter e dominar nossos desejos. Depois do domínio próprio, vem a perseverança, ou seja, aprender a continuar com paciência. A piedade, o amor fraternal e o amor desinteressado são os últimos. Devemos crescer espiritualmente em cada um desses sete degraus.
Com essa escada, o apóstolo apresenta outros conceitos relacionados ao crescimento cristão. O primeiro é o poder de Deus. Ele diz: “Seu divino poder nos deu tudo de que necessitamos” (2Pe 1:3). Vou subir essa escada, vou crescer, não pelo meu próprio poder, mas pelo poder de Deus. “É Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dEle” (Fp 2:13).
O segundo conceito é o do empenho humano. Além do poder divino, também existe o esforço humano: “Portanto, irmãos, empenhem-se ainda mais para consolidar o chamado e a eleição de vocês” (2Pe 1:10). Como disse Bradley Nassif: “A graça se opõe ao mérito, mas não ao esforço.” Deus vai fazer tudo para minha salvação, menos a minha parte. Agora que você foi salvo, pode ir a Deus e perguntar: “Senhor, o que devo fazer? Mostra-me a Tua vontade. Dá-me ideia do que devo ou não fazer para crescer na graça.”
Vestes de Salvação
É grande o meu prazer no Senhor! Regozija-se a minha alma em meu Deus! Pois Ele me vestiu com as vestes da salvação. Isaías 61:10
Você já se colocou alguma vez diante do seu guarda-roupa e, com toda a variedade de roupas para vestir, perguntou-se: “Que roupa vou usar?”
No tempo de Mao Tse-tung, todos os chineses andavam uniformizados usando uma boina e um casaco azul-esverdeado. Foi cair o líder, e houve uma explosão de cores. O povo vestiu aquilo que havia tempo queria usar.
Quando se usa um uniforme, não há estresse, nem escolha. Você precisa vesti-lo, goste ou não goste.
A roupa é mais do que uma proteção do clima ou artefato para conservar nossa modéstia. Vestimo-nos para nos sentir melhores e usamos roupas de que gostamos, para acentuar ou para dissimular aspectos de nosso físico.
Vestimo-nos também para melhorar nossa autoimagem. Na cor e no modelo que você quiser, a camisa, a calça, a blusa, saia ou vestido estão aí para você melhorar a aparência. Quando você põe essa roupa que lhe cai bem, surge um sorriso no rosto e parece haver leveza no andar.
Quando Adão e Eva, feitos à imagem de Deus, pecaram, aquela imagem foi afetada e a primeira coisa que fizeram foi costurar para si vestes de folhas de figueira – trabalho de suas próprias mãos. Isso fez com que se sentissem melhor, mas não reparou a imagem deles, porque a falha não estava no tecido, nem no corte, mas neles mesmos. Deus precisou sacrificar animais e Ele mesmo trabalhou as peles, modelou as vestimentas e vestiu Adão e Eva.
Estamos certos quando acreditamos que precisamos de novas vestimentas para melhorar nossa imagem. O problema é querer encontrar essa roupa em qualquer loja, porque não há tecido, corte nem modelo que cubra verdadeiramente nossas necessidades espirituais.
Em lugar de ficar procurando, empurrando cabides de um lado para outro na seção de roupas da melhor loja de departamentos do Céu, o linho fino branco é a única vestimenta apropriada para os convidados do Rei. E há somente um fornecedor, assim como foi para Adão e Eva: o próprio Deus.
“O homem nada pode idear para suprir as perdidas vestes de inocência. Nenhuma vestimenta de folhas de figueira, nenhum traje mundano, pode ser usado por quem se assentar com Cristo e os anjos na ceia das bodas do Cordeiro. Somente as vestes que Cristo proveu podem habilitar-nos a aparecer na presença de Deus” (Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 311).
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27 de fevereiro - Domingo
27 de fevereiro - Domingo
A Paz de Deus
A paz de Deus que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus. Filipenses 4:7
Quando Paulo escreveu para os crentes na cidade de Filipos, não estava numa cadeira de praia de um resort no Mar Mediterrâneo. Não estava numa rede num amplo alpendre, desfrutando a brisa. Estava na prisão, lugar escuro, úmido, limitado. Ele poderia ter sido tentado a pensar que, depois de 20 anos seguindo a Jesus, não merecia aquilo. Mas, com confiança e alegria, escreveu para os filipenses: “A paz de Deus guardará o coração de vocês. Quanto a mim, não se preocupem.”
A paz que Deus oferece não é uma paz livre de pressões e dificuldades. Ela independe das coisas externas.
Há alguns anos, Charles Roberts IV, motorista de um caminhão distribuidor de leite, invadiu a pequena escola de uma comunidade Amish, no Estado da Pensilvânia. Com violência descontrolada, assassinou dez meninas e depois se matou. O crime surpreendeu a muitos, mas surpresa maior aconteceu poucos dias depois. Repórteres que acompanhavam o que havia acontecido presenciaram algo inusitado.
Os Amish se reuniram, oraram juntos, choraram juntos. Os repórteres ficaram surpresos porque orador após orador falava de perdão para o homem que havia atirado nas crianças. A princípio, eles duvidavam de que isso fosse verdade e não entendiam o que estavam testemunhando. Havia só uma explicação: eles haviam testemunhado a “paz que excede todo o entendimento”.
O mundo procura a paz por meio de meditação, ioga ou uso de roupas brancas. Também a procura nos suplementos alimentares, colchões e travesseiros especiais, velas aromáticas, música meditativa da Nova Era, e até por meio da compra de tudo o que se queira. Mesmo assim, não encontra a paz.
A paz que o mundo oferece é a paz do escape. É a paz que se consegue com a falta de comprometimento, ao fugirmos dos problemas ou nos recusarmos a enfrentar os desafios.
A paz de Deus é paz completa. Temos do nosso lado o Príncipe da Paz. Ele nos guardará da ansiedade, da dúvida e da preocupação. “Deixo-lhes a paz; a Minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo” (Jo 14:27).
“Tu, Senhor, guardarás em perfeita paz aquele cujo propósito está firme, porque em Ti confia” (Is 26:3).
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28 de fevereiro - Segunda
28 de fevereiro - Segunda
Cuidado com Suas Emoções
Que cada um de vocês esteja seguro de estar fazendo o melhor, pois assim terá a satisfação pessoal de uma obra benfeita e não precisará se comparar com outra pessoa. Gálatas 6:4, A Bíblia Viva
Ele acontece na família, no trabalho, na igreja e até entre amigos. Talvez seja uma das primeiras emoções na história da humanidade. Esteve presente no incidente de Caim e Abel; com os irmãos de José ao verem o tratamento e os presentes que o pai dava para ele. Esteve no coração de Saul quando Davi recebia os elogios, as músicas e o carinho de todos. Esteve também na reação do irmão do filho pródigo: “Como é que ele gastou tudo e foi recebido com festa?” No centro do ciúme está o pressentimento de que alguma coisa que me pertence e esteve sob meu domínio está passando para o controle de outra pessoa.
Um principiante que chegou é indicado para dirigir a área na qual você é especialista, e você é transferido para uma área em que não há visibilidade. Sente que está perdendo posição, status, poder e influência. Outro colega leva vantagem sobre você ao ser o primeiro a lançar uma ideia, um projeto, e o nome dele se torna motivo de comentários elogiosos. Você fica atormentado de raiva e ciúme. Ou é o recém-chegado que está atraindo para si até mesmo seus melhores amigos e você fica com medo de perder seu espaço.
Um incidente no qual o ciúme é bem exemplificado ocorreu na vida de três irmãos. Todos reconheciam que eles tinham sido escolhidos por Deus. Miriam, como profetisa, talentosa na música e na poesia. Arão, sumo sacerdote e líder espiritual. Moisés, líder de Israel no deserto.
O descontentamento aumentou quando Moisés indicou setenta líderes como auxiliares sem consultar seus irmãos mais velhos. “Olha só, nem fomos consultados para essa indicação. Afinal de contas, para que estamos aqui?”
E no centro da conversa estava o ciúme. “Ele está monopolizando tudo. Faz parte de oito comissões. Não há um só mês em que seu nome não apareça na seção de notícias da revista. É convidado para todas as campais e está afinado com as tribos ricas do sul: Rubem, Simeão e Gade.”
Contextualize e você verá até onde pode chegar o ciúme. A Palavra de Deus tem uma advertência e um conselho para nós: “O coração em paz dá vida ao corpo, mas a inveja apodrece os ossos” (Pv 14:30). Com espírito de humildade e convicção dos talentos que o Senhor nos deu, independentemente do lugar e da posição que ocuparmos, poderemos cumprir a missão que nos cabe.